sábado, 16 de janeiro de 2016

Artista Negra Posa Nua em Antigos Pontos de Venda de Pessoas Escravizadas em Nova York


Nova York tem a fama de ser uma cidade rica, mas isso esconde uma forte história de mercado humano. Para sua série fotográfica, “Sapatos Brancos”, a artista Nona Faustine quis chamar atenção para essa história e seu legado histórico.
“Como uma viajante do tempo eu estou muito interessada no passado e no nosso futuro. Eles desejam tanto reconhecimento pelo seu sacrifício e contribuições, algo que lhes permanece negado. Existia uma força dentro de mim que precisava prestar uma homenagem àqueles que tiveram o papel principal na história dessa cidade, e os espaços onde existiram. Eu quis desvelar esses lugares onde uma ligação tangente ao passado continua a existir. Sendo uma documentarista de coração eu quis que vocês sentissem e vissem esses espaços, deixassem suas mentes vagar. O que um corpo Negro parece hoje em um espaço onde eles vendiam seres humanos há 250 anos atrás? Nenhum outro meio senão a fotografia e o audiovisual poderia fazê-lo.”

Embora a escravidão estadunidense ser sempre pintada como um legado sulista, foi uma parte integral da cultura e economia dos estados do norte também, incluindo Nova York.
“A escravidão foi introduzida em Manhattan (Nova Amsterdã, na época) em 1626 e, por dois séculos, continuou como uma parte significativa da vida em Nova York. De fato, o Conselho Municipal da Cidade de Nova York declarou a Wall Street como o primeiro mercado humano oficial da cidade em 13 de dezembro de 1711, determinando a rua como um espaço onde seres humanos poderiam ser escravizados pelo dia ou pela semana. O mercado humano era feito de madeira aberto dos lados, e mantinha aproximadamente 50 pessoas por vez. Era assim operado, na esquina da Wall Street com a Peral Street no coração do Distrito Financeiro, até 1762. A escravidão foi legalmente abolida em Nova York em 1827.”
O uso do corpo das mulheres por razões socio-políticas continua muito controverso, particularmente o da mulher negra. Mulheres negras recentemente protestaram marchando de topless durante a hora do rush em São Francisco para chamar a atenção para a brutalidade policial contra mulheres negras, um movimento que gera tanto admiração como crítica.

Como para Faustine, tirar suas roupas publicamente foi tanto libertador como desafiador.
“Meus olhos estavam bem abertos, e eu ainda estou lá e além. Meu corpo pulsa com adrenalina. Minha ansiedade está extremamente alta. Durante todo o dia você filtra as abstrações possíveis para que possa manter alguma compostura tanto para a câmera como para as pessoas, carros e ônibus que passam. Meus sentidos estão elevados. Sons em particular que me atento. Tenho essa sensação de estar sendo vista, por algo ou alguém que não está realmente lá às vezes. Estou completamente ciente da minha presença nesses lugares.”
A série fotográfica de Faustine foi inspirada em parte por Saartjie “Sarah” Baartman, conhecida como Vênus Hottentot; uma mulher africana Khoikhoi com nádegas lárgas e figura curvilínea que fora exibida em shows de horrores durante o século XIX na Europa.
Quanto aos sapatos brancos na série de Faustine, são uma representação “do patriarcado branco do qual não podemos escapar.”
Siga Nona Faustine no Instagram e no Facebook
Texto original traduzido por Victoria Roriz, da página LGBT Headbangers Brasil

CURSO EAD ACESSIBILIDADE EM AMBIENTES CULTURAIS 2016


Estão abertas até 15 de fevereiro as inscrições para o Curso de Extensão em Acessibilidade em Ambientes Culturais, promovido de forma on-line pela Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC) do Ministério da Cultura (MinC) em parceria com as universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Serão oferecidas 420 vagas para representantes de Pontos de Cultura, gestores públicos, professores e sociedade civil. O curso terá duração de cinco semanas – de 22 de fevereiro e 24 de março.
Essa é a segunda edição do curso. A parceria entre o MinC e as duas universidades federais surgiu da necessidade de capacitar gestores culturais e de ampliar a pauta da acessibilidade cultural.
O curso é composto por 10 módulos. A cada duas semanas, dois módulos serão disponibilizados e discutidos na plataforma.
Mais informações pelo email: acessibilidadeculturalead@gmail.com
Inscrições: http://bit.ly/1J9uhWZ

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O ANJO CARECA



Dah Vini


Felizes daqueles que são carecas! Dizem que é dos carecas que elas gostam mais, não é? Talvez esse velho ditado esteja certo, no entanto, acredito que Deus criou as mãos para alisarem as carecas, assim… 

Não importa de onde elas venham, nem de quem são. O importante é ter mãos e consequentemente careca. 5 minutos foram suficientes para o sono invadir minh’alma. O alisado foi tão terno que até me fez sonhar. 

Sonhei que um anjo alisava a minha careca feliz e satisfeito da vida, e eu…mais ainda, claro. No entanto, o anjo não era careca, logo, não pude corresponder-lhe a altura. 

Que injustiça! 

Acho que deveria existir anjos carecas. Por outro lado, acho que Deus não deu careca aos anjos paraque os carecas sintam-se anjos ao terem suas carecas alisadas, pois foi assim que me senti naquele momento de êxtase celeste. 

Aí, fiz uma oração para agradecer ao meu anjinho: Senhor que estás no céu! Obrigado por me fazer merecedor do carinho e ternura que só os anjos podem dar. Obrigado pelo amor que invade meu coração e que transforma minh’alma me fazendo sentir privilegiado. Senhor!. Faça-o perceber que embora careca, eu tenho mãos de anjo. Amém! 

PS: Sr Deus, estou careca de saber que esse anjo, enviado por ti, é o anjo que guardará meu coração e minh’alma, mas será que ele sabe? 

Aí, eu acordei. Droga!

[]

Dah Vini
Natural de Recife-PE, é
Professor/ Agitador Cultural/ Artista Plástico


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Piauiense é primeiro no Enem e pessoas do Sul e Sudeste ficam revoltadas




Era só o que faltava! Estudante é criticado porque se esforçou. De forma inédita, o estudante piauiense Vítor Melo Rebêlo (foto), de apenas 18 anos, tirou a maior nota do Enem em matemática. O garoto fechou a prova e alcançou 1.008,3 pontos. É o campeão do Brasil, portanto. Questionado sobre como conseguiu tal feito, ele respondeu: "É só estudo mesmo". 

Estranhamente, no entanto, centenas de internautas se revoltaram e passaram a atacar Vítor, a maioria de pessoas do Sul e Sudeste. "É fraude", dizem uns. É enrolada do PT, esbravejam outros. E há até os que afirmam que isso não tem cabimento pois no Nordeste só tem gente feia e burra. Esse bando de fascistas precisa cair na real e deixar de resmungos, na verdade, inveja pura. E devem é seguir o exemplo de Vítor e estudar. 

Muitos dos comentários que fazem estão com erros grosseiros de português. O garoto obteve sucesso porque estudou muito e é inteligente. Além disso, contou com o privilégio (coisa que a maioria dos brasileiros não tem) de estudar em uma escola particular muito bem aparelhada. Quem se ilude com o contrário é porque é um fora de tempo mesmo. Leia mais AQUI

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

4° PRÊMIO PERNAMBUCO DE LITERATURA


Está no ar o edital do IV Prêmio Pernambuco de Literatura! Uma grande oportunidade para escritores residentes no estado. 

Para facilitar ainda mais a participação de todos os interessados, desta vez, as inscrições serão apenas online. Serão avaliados livros inéditos, escritos em língua portuguesa por moradores das quatro macrorregiões do Estado: Região Metropolitana, Zona da Mata, Agreste e Sertão. 

Saiba mais, participe ou indique esta oportunidade a um amigo! 

--
O Prêmio Pernambuco de Literatura já contemplou 14 escritores no estado e é uma iniciativa doGoverno de Pernambuco, através da Secult-PE, Fundarpe e Cepe Editora.


domingo, 3 de janeiro de 2016

Começa neste domingo o Festival Louro do Pajeú comemorando 101 anos de Louro e 60 anos de Zeto




O Festival pelos 101 anos de Louro do Pajeú e 60 anos de Zeto será realizado 
entre 3 e 6 de janeiro em São José do Egito, no Sertão de Pernambuco. 


A festa é marcada com muita música e poesia. Atualmente o dia 6 de janeiro recorda a poesia desses grandes artistas, que cativaram inúmeros fãs da cultura e da arte desse grande estado. Na casa onde morou Lourival Batista é mantida por seus filhos e netos a Casa do Repente – Instituto Lourival Batista, que recupera a história de Lourival e dos poetas da região. Lá ocorreu a comemoração do seu centenário, com cinco dias de festa, poesias e cantorias.

Em 5 de dezembro de 1992, aos 77 anos, Lourival faleceu. Viveu sempre da cantoria e do repente, exceto por um pequeno período como anotador do jogo do bicho.

PROGRAMAÇÃO DO FESTIVAL 101 ANOS DE LOURO E 60 ANOS DE ZETO

Dia 03 de janeiro (domingo)
Igreja da Matriz de São José – 19h - Missa do Cantador, com o poeta Pe. LuisinhoCantadores: Valdir Teles e Diomedes MarianoInstituto Lourival Batista – 21h- Exposição permanente: Lourival Batista - 100 Anos de Poesia- Exposição fotográfica: A Parte que Iluminou - de Josimar MatosExibição de filmes - Não tem só mandacaru de Tauiana Uchoa- Bom dia, poeta! de Alexandre Alencar

Dia 04 de janeiro de 2015 (segunda)
Bodega de Job Patriota– 15:30- Recital: Lucas Rafael e Marcos Passos - Lançamento de livro Cosmigalha, de Tonfil- Recital da Roedeira: Izabela Ferreira, Thyelle Dias, Sara Cristovão, Dekiane Ribeiro, Mariana Veras e Dayane Lopes- Silvia Patriota (Lançamento do CD, O Canto do Uirapurú) - Kely Rosa- MambembePalco Zá Marinho – 20h - Cantoria: Rogério Menezes e Raimundo Caetano- Recital: Chico Pedrosa - Tonfil e Romane (França) - Pernambuco Quartet (Antônio Marinho, Breno Lira, César Michiles, Lucas dos Prazeres) - Bia Marinho- Flávio Leandro (Abertura: Delmiro Barros)

Dia 05 de janeiro (terça)
Espaço João Macambira - 10h - Espetáculo infantil: O Touro Azul e as Canções com Rildo de Deus e Anaíra MahinEspaço João Macambira – 15h - Mesa de debate Tema: ZetoCom Ésio Rafael, Nõe de Jó, Luis Homero, Antônio José de Lima e Paulo Carvalho - Acolhida: Antonio MarinhoBodega de Job Patriota - 17h- Recital: Vanilson Cabeção e Ícaro Tenório - Lançamento de livro e recital Adeus, de Miró, com intervenção visual de Raoni Assis- Mestre Anderson e seu Terno de Maracatu- Vozes e VersosPalco Zá Marinho – 20h- Lucas dos Prazeres - As Severinas (Lançamento do CD Tribos) - Val Patriota (participação de Lostiba)- Em Canto e Poesia- Geraldo Azevedo

Dia 06 de janeiro (quarta)
Bodega de Job Patriota – 12h- Confraternização com Baião de Dois- Leitura declamada do cordel 100 anos de Louro do Pajeú, por Arlindo Lopes- Lançamento de livro “ O rei me disse fica, eu disse não” – 100 repentes de Lourival Batista, de Marcos Nunes da Costa, Maria Helena Marinho e Raimundo Patriota- Recital: Paulo Passos e Alan Miraestes- Lançamento do livro Nietzsche e Rosset – Alegria, impulso e criação e da coleção Filsofia em Cordel de Lindoaldo Campos- Recital: Graça Nascimento - Mesa de Glosa, Caio Menezes, Elenilda Amaral, Dudu Moraes, Dayane Rocha. Coordenação: Jorge Filó- Cantoria: Valdir Teles e Diomedes Mariano- Cantoria: Raimundo Caetano e Rogério Menezes- Lucas de Oliveira interpreta Elomar - Trio Retalhos em Cordas- Henrique Brandão- Maciel Melo

BIOGRAFIAS 
Lourival Batista Patriota, também conhecido por Louro do Pajeú (Itapetim, 6 de janeiro de 1915 — São José do Egito, 5 de dezembro de 1992) foi um repentista brasileiro. Considerado o rei do trocadilho, concluiu o curso ginasial em 1933, no Recife, de onde saiu para fazer cantorias.Foi um dos mais afamados poetas populares do nordeste brasileiro.

De família de repentistas, era irmão de outros dois repentistas famosos (Dimas e Otacílio Batista) e genro do poeta Antônio Marinho (a guia do sertão), tendo sido um dos grandes parceiros do paraibano Pinto do Monteiro.
Sempre viveu dessa arte de repentista e cantador. Apresentou-se, assim, em várias partes do Brasil.


Há dez anos morria o poeta José Antônio do Nascimento Filho, o Zeto do Pajeú, que ganhou fama quando, depois do golpe de 64, Miguel Arraes voltou ao Brasil e venceu as eleições para governador de Pernambuco, em 1986. O protesto contra os militares que destituíram e exilaram Arraes ecoou na voz e na viola de Zeto: "Volta Arraes ao Palácio das Princesas, vai entrar pela porta que saiu". Esses versos foram repetidos inúmeras vezes do Sertão ao cais e se tornaram o símbolo do retorno de Arraes à cadeira de governador. 

Zeto nasceu em Canhotinho, no Agreste. Aos cinco anos se mudou com a família para Caruaru e na adolescência veio para o Recife. Em abril de 1986, durante uma viagem a São Paulo para participar de um congresso do Partido Comunista, conheceu a cantora Bia Marinho. Ela lhe abriu não só o coração, mas também o caminho do Pajeú e da fama. Em poucos dias de namoro, se apaixonaram. Foram morar juntos em São José do Egito, terra do pai dela, Louro do Pajeú, e surgiu a gravidez do primogênito, Antônio Marinho - que seguiu a trilha poética do pai. Para seguir uma tradição sertaneja, o casal combinou que Zeto teria que pedir ao pai dela a permissão para o casamento.

Sentados em círculo na sala da casa da família de Bia, Zeto abriu o discurso. Mas de nada adiantaram os ensaios. Cada vez se enrolava mais e não saia nada compreensível. Bia interveio: "Pai, ele quer pedir minha mão". Louro do Pajeú, poeta maior da região, com aquela sabedoria secular do sertanejo, olhou para o pretendente e disparou com um sotaque nordestino bem carregado: "É só o que falta ela te dar". A família caiu na gargalhada e começava ali uma longa história de amizade entre os dois poetas. A primeira doação do sogro ao genro, além do verso da volta de Arraes, foi o sobrenome. A partir de São José do Egito, passou a ser chamado de Zeto do Pajeú. 

Apaixonado por poesia e por música, logo se adaptou à nova moradia, que já era conhecida como a terra dos poetas. Religioso, costumava rezar e ir á missa todos os domingos. Pai zeloso, acordava com o dia ainda escuro para preparar as refeições da família e levar os três filhos à escola (Antônio, Miguel e o enteado Greg). Na música, apreciava os cantores regionais, mas não deixava também de curtir Caetano, Jorge Mautner, Gil, Vicente Celestino - Zeto interpretava com maestria o Ébrio. 
Na poesia, conhecia e gostava dos versos de poetas como Baudelaire, Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos. Na esteira do poeta paraibano, também deixou uma única obra, o CD Curvas, gravado em apenas quatro horas, sem intervalo, num estúdio do Poço da Panela, no Recife. Na gravação, Zeto conversa, afina o violão, declama e canta. Há pouco tempo, Yamandu Costa fez uma revelação: "Na hora de cozinhar, gosto de ouvir o disco de Zeto". 

Às quatro horas da tarde do dia 14 de outubro de 2002, aos 46 anos, o poeta, que era como costumava chamar todo mundo, deu seu último suspiro e partiu para a eternidade. No seu enterro, em Canhotinho, tendo como testemunhas parentes, amigos, filhos, poetas e bêbados, o filho Antônio Marinho declamou versos de Augusto dos Anjos e a companheira Bia Marinho foi buscar nos versos de Vinicius de Moraes a senha para a despedida: "Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar, a cada despedida eu vou te amar....". Terminava assim, de forma precoce, a história de um homem que dedicou toda a sua vida à música e à poesia.

Com informações do Jornal do Commercio 
Fonte: Âncora do Sertão Online

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Microcefalia: Mães no sertão vivem angústia de não ter diagnóstico definitivo

Do blog do Nassif


Valéria é uma das mães de Itapetim que esperam pelo diagnóstico

Jornal GGN - Na cidade de Itapetim, em Pernambuco, 11 mães que foram notificadas que seus bebês tinham suspeita de terem contraído microcefalia, enfrentam a dúvida de não terem um diagnóstico definitivo. Mesmo avisadas no final de novembro, elas terão de esperar até 28 de dezembro para que suas crianças passem por exames no Hospital Oswaldo Cruz, em Recife.
Ao todo, já foram 804 notificações em Pernambuco, sendo que 251 bebês têm o perímetro cefálico (medida da cabeça em sua parte maior) de 32 centímetros ao menos, classificação que se enquadra na definação de microcefalia da Organização Mundial da Saúde.
Da BBC Brasil
 
Camilla Costa
Em Itapetim, no sertão de Pernambuco, 11 mães que foram notificadas por estarem com seus bebês suspeitos de terem contraído microcefalia enfrentam a angústia de não terem diagnóstico definitivo sobre uma condição que pode mudar a vida de suas famílias.
Elas moram a cerca de 400 km do Recife, e mesmo notificadas no final do mês de novembro, terão que esperar até o dia 28 de dezembro para que seus bebês sejam examinados no Hospital Oswaldo Cruz, na capital, centro de referência para a investigação da má-formação.
Em todo o Estado, já são 804 notificações — 251 dos bebês são crianças com o perímetro cefálico (medida da cabeça em sua parte maior) de 32 cm ou menos, que se enquadram na definição de microcefalia da Organização Mundial de Saúde.
Tanto as mães como as autoridades locais têm mais dúvidas do que respostas sobre a má-formação e sua relação com o zika vírus, transmitido pelo mosquitoAedes aegypti.
"Na realidade, para nós é tudo novo. Tem menos de um mês que soubemos, a coisa estourou de uma vez. Soubemos que Pernambuco tinha 300 casos, logo já estava em 700. Tivemos que notificar logo as que chegaram", disse a BBC Brasil Arquimedes Machado, prefeito da cidade.
Em Itapetim, a maior parte das mães foi notificada quando Pernambuco ainda admitia em seu protocolo de microcefalia bebês que nasceram com 33 cm de perímetro cefálico. A mudança, anunciada na semana em que a reportagem visitou a cidade, causou confusão entre elas. Cinco bebês atendem ao novo protocolo, mas todos serão examinados, para garantir que nenhum deles teve lesões causadas por uma possível infecção por zika vírus nas mães.
"Eu não queria ir pra Recife por que as pessoas da minha família ficavam dizendo que a criança não precisa. Mas pelo bem do meu filho e pra tirar aquele peso, decidi ir", conta Valéria Barros, de 17 anos, mãe do pequeno Arthur Emanuel, de 2 meses.
"Se a criança tiver alguma coisa no futuro e eu não tiver feito os exames, posso me sentir culpada."
Arthur nasceu com o perímetro cefálico de 33 cm. Portanto, fora do protocolo atual. Valéria, no entanto, teve os sintomas do zika pouco antes de completar quatro meses de gravidez. Segundo as autoridades de saúde pernambucanas, foram encontradas lesões no cérebro de um pequeno percentual de bebês com essa medida.
"A pediatra me explicou que estavam confirmando que a microcefalia era por causa do zika e que poderia dar paralisia, falta de visão, falta de audição, essas doenças físicas, falta de desenvolvimento no corpo. Eu fiquei preocupada, deu vontade de chorar."
"Mas se a gente for pra Recife e o médico disser que ele tem algum problema, eu vou amar do mesmo jeito. O que vale é o amor da mãe", afirma.

Comparando cabeças

A maior parte das mães afirma não ter tido nenhum dos sintomas característicos da doença. Segundo o Ministério da Saúde, 80% dos casos de dengue, zika e febre chikungunya são assintomáticos. Mesmo assim, de acordo com especialistas, ainda é possível que os bebês sejam afetados e, caso a doença seja contraída entre o primeiro e o quarto mês de gestação, tenham microcefalia.
Há pouco mais de um mês, a secretaria de saúde do município começou a conferir os registros de bebês nascidos nas semanas anteriores e informar o Estado os que tinham suspeita de terem contraído a doença. No início do ano, Itapetim teve um surto de dengue, zika e chikungunya com quase 500 casos notificados, dos quais apenas 175 foram confirmados como dengue.
Em abril, o índice de infestação dos imóveis da cidade pelo mosquito da dengue chegou a ser o maior do Estado. Agora, o início de uma nova infestação assusta também as grávidas, que temem as consequências da infecção.
"A gente já percebe que tem gestantes muito preocupadas, com medo. Na realidade, elas não sabem direito qual é a situação", disse à BBC Brasil a secretária de saúde de Itapetim, Jussara Araújo.
"Eu fui até comprar um repelente, passei em uma farmácia e em uns dois supermercados e não tinha mais. As gestantes estão loucas, comprando todos."
Algumas das mulheres com quem a BBC Brasil conversou moravam na zona rural da cidade de 13.900 habitantes e sequer sabiam exatamente qual seria o dia em que viajariam para Recife, até a chegada da reportagem.
No sítio de sua família, Thamires Santos da Silva, de 22 anos, ainda sente a dor do parto cesárea da filha Valentina, que nasceu um dia antes de sua conversa com a BBC Brasil e foi imediatamente notificada — tinha um perímetro cefálico de 31 cm.
"Levei um susto, comecei logo a chorar", relembra. "Ela falou que não era bem certo (que a bebê tinha microcefalia), que era pra fazer o exame pra ver, mas eu fiquei assustada."
Thamires diz não ter sentido nada durante a gravidez e se apoia nas imagens dos bebês acometidos pela má-formação que vê na TV para diminuir o nervosismo antes da viagem a Recife.
"Eu vi na TV que as cabeças eram menores, né. Não sei se é porque é a minha, mas acho que a dela é maior."
No hospital em Recife, o exame médico determinará se as crianças são realmente microcéfalas – conferindo se seu perímetro cefálico foi corretamente medido ou se os bebês são pequenos por outras razões, como a desnutrição de suas mães.
Os médicos ainda podem pedir ecografias ou tomografias dos bebês para conferir se há lesões aparentes no cérebro, além de outros exames.
A prefeitura conseguiu uma van para levar as 11 mães para a capital e vai abrigá-las em uma casa de apoio mobiliada, onde elas devem ficar por cerca de três dias, até que todas sejam atendidas. Voltarão a Itapetim, com alguma confirmação sobre a saúde de seus bebês, na véspera do Ano Novo.
Custo alto
Em um dos sítios mais afastados da cidade, Ana Paula dos Santos, de 19 anos, também diz não acreditar que a filha Jamile, de dois meses e meio, tenha sido afetada pelo vírus.
"Duas mulheres da fazenda vizinha tiveram chikungunya, mas aqui ninguém teve nada. Nem tem água, como é que vai ter dengue?". Sua família chega a passar quatro dias sem água. A promessa antiga de um poço nas imediações da propriedade ainda não foi cumprida.
"A enfermeira falou que ela nasceu com 32 centímetros (de perímetro cefálico), mas ela nasceu muito magrinha."
Segundo o cirurgião João Pereira Borges Neto, que realiza a maior parte dos partos da cidade, as crianças nascidas nas últimas semanas não parecem ter comprometimento neurológico sério.
"Mas por causa do mosquito, temos o receio muito grande de nascerem bebês com microcefalia", disse a BBC Brasil.
Para mães como Ana Paula, a viagem para Recife no fim do mês traz ainda outras preocupações. Apesar de terem transporte e hospedagem fornecidos pela prefeitura, as mães terão que pagar sua alimentação e a de seu acompanhante.
"Eu estou nervosa porque não tenho condição financeira pra ir. Lá é caro", diz.
"É complicado, porque não temos o recurso para darmos assistência a elas e provavelmente não virá. Mas vamos ver o que o município pode fazer para ajudar, porque elas não podem ficar sem se alimentar", diz a secretária de saúde do município.
Para evitar que mães como as de Itapetim precisem fazer viagens, que podem chegar a ser semanais, para o diagnóstico e atendimento dos bebês, o governo do Estado anunciou que ampliará a estrutura de atendimento de Caruaru, Petrolina e Serra Talhada, cidades maiores do interior.
'Enquanto não nascer, não fico tranquila'
Para as mulheres que ainda não deram à luz seus bebês, a espera é ainda mais delicada, em meio a reportagens sobre crise de saúde na TV onipresente nas casas e boatos que circulam na cidade.
"Eu prefiro nem ver televisão", diz Flavia Raiane Vasconcelos de Lima, de 17 anos, grávida de oito meses.
"Em maio eu tive febre e depois as pintas vermelhas apareceram no meu corpo todo, mas o médico fez o ultrassom e disse que está tudo bem."
Uma conversa da BBC Brasil com as gestantes da cidade acabou se tornando uma sessão para tirar dúvidas sobre a microcefalia e os perigos da infecção por zika para os bebês.
Duas das mães, Jackeline Palmeira, de 26 anos, e sua amiga Elisangela Pereira, de 19 anos, estão entre as mais apreensivas.
"Perdi meu primeiro bebê, que nasceu morto aos sete meses. Quando ele nasceu, a cabeça parecia cheia de água. Já minha segunda filha, de 11 anos, tem um problema no coração. Ela já fez cirurgia de sopro. Eu já tenho que ir para Recife para fazer o tratamento dela, tenho gastos e fico cansada", diz Jackeline.
Ela afirma que já pagou por mais exames de ultrassom do que o necessário para garantir que nenhuma alteração é observada no bebê: "Eu perco o sono, sou muito nervosa. Enquanto não nascer, não fico tranquila. Dá pra ver no ultrassom?".
"Tento não ficar preocupada porque o que eu sentir ele sente", diz Elisangela. "Mas meu marido chora, se preocupa demais. Não vê a hora de nascer para ver se sai perfeito."
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