Escritores sertanejos mantém uma produção farta e de qualidade, que escoam graças à determinação
A poesia do Sertão do Pajeú de Pernambuco não se foi com os trocadilhos de Lourival Batista, ou com o lirismo de Rogaciano Leite. Pelo contrário, seus versos, junto com os de tantos outros poetas sertanejos, germinaram uma nova geração de artistas pajeusenses, que estão conseguindo realizar suas obras artísticas e distribuí-las sem depender de grandes apoios financeiros, contando apenas com o companheirismo dos demais artistas.A militância de artistas como esses está presente, acima de tudo, no ato de permanência produtiva cultural. São diversos eventos mensais e anuais que acontecem por meio de colaborações artísticas e pequenos incentivos privados – geralmente do comércio local –, fazendo com que a cena continue caminhando. A dinâmica segue da seguinte maneira: quando o evento acontece na cidade “x” os poetas e músicos dos municípios vizinhos vão participar sem cobrar nada além de uma ajuda de custo. Assim, é como se existisse um rodízio de eventos democráticos e sem fins lucrativos em prol do público e dos próprios poetas que defendem a cultura sertaneja. Artistas de cachês mais altos, como Flávio Leandro e Irah Caldeira, também costumam participar de alguns desses eventos, requisitando unicamente transporte e hospedagem – Irah, por exemplo, já se apresentou por nove anos consecutivos na Missa do Poeta, em Tabira, sem pedir remuneração.
Segundo o professor, produtor e poeta Genildo Santana, de Tabira, membro da Associação dos poetas e prosadores de Tabira (APPTA), uma mesa de glosas de qualidade pode ser custeada com cerca de R$ 1,5 mil.
Cadeia produtiva motiva a fé
Nesse cenário independente, a produção e a distribuição dos livros são feitas pelos próprios poetas, e o serviço de impressão acontece, na grande maioria das vezes, através de gráficas particulares situadas na região, tudo custeado pelo autor, sem editoras. Os músicos gravam, mixam e masterizam suas próprias músicas. Os artistas usam as redes sociais na hora de difundir e até mesmo vender seus produtos, sejam CDs, livros, cordéis, ou qualquer outro material.
Zé Adalberto, poeta, produtor e escritor independente de Itapetim, é autor dos livros Cenário de Roedeira e No Caroço do Juá, além de vários cordéis e um CD de declamações que fez junto com os poetas Alexandre Morais e Genildo Santana intitulado de Retrato Três por Três. Recentemente, Zé Adalberto fechou contrato com a Design Editora e Gráfica para produzir o seu novo livro, Real ou Imaginário: Circo é Diversão. “O que dificulta muito é que não podemos vender os livros para o governo já que essas obras são quase sempre sem registro, sem falar que a tiragem é bem curta. O CD com Alexandre e Genildo foi feito para pagar os custos da viagem do divulgação de um dos meus livros. O lado bom de se estar com uma editora é que o seu poder de alcance cresce: o meu novo livro, por exemplo, irá para alunos filhos de brasileiros no Canadá”, diz o poeta.
Zé Adalberto
Vinícius Gregório, de São José do Egito, membro do grupo Baião de Nós Três, disponibilizou para download gratuito o seu CD de declamações.
Antônio Marinho, de São José do Egito, integrante do Em Canto e Poesia e produtor da Festa de Louro, comenta: “O artista tem que fazer o que é verdade para ele. Quando você faz de verdade, você termina se juntando a outras pessoas, a outras artes, e fazendo parte de uma natural coletividade. Eu acho que não é pensar num produto de venda, mas pensar realmente em como que você deseja fazer enquanto artista. Acho que isso já é militar o bastante, fazer a verdade e deixar que a arte se sobressaia antes de tudo.”
Foto de Bernardo Ferreira/Divulgação (Da esquerda para a direita, em pé, Gislândio Araújo, Alexandre Moraes, Ayrton Queiroz, Dudu Morais, Lucas Rafael, Genildo Santana, Lenelson Piancó, Dayane Rocha, Henrique Brandão, Lima Júnior, Marcos Freitas, Zé Adalberto e Jorinha Ferreira; Sentados, da esquerda para a direita, Vitória Fernarndes Izabela Ferreira, Dayane Lopes, Thyelle Dias, Neci de Arnaldo, Kamila Leite e Lucivânia Bernardo).
CONHEÇA
Músicos:
Alguns dos tantos artistas musicais são: As Severinas, trio de poetisas que misturam forro pé de serra com poesia; Em Canto e Poesia, trio de músicos e poetas interpretando e produzindo versos e cantigas; Baião Nós Três, com pouco tempo de estrada mas muito de poesia; Vozes e Versos, banda mais regional, com forró pé de serra e poesia; Mambembes, que mistura alguns estilos com a vertente regional; Xote do Bem, banda de forró que interpreta versos de poetas regionais;Henrique Brandão, Poeta e cantor, que recentemente lançou seu primeiro vídeo clipe da música Réu Confesso.
Escritores:
Abrão Filho, de Brejinho-PE; Alexandre Morais, de Afogados da Ingazeira-PE;Arlindo Lopes, de São José do Egito-PE; Dedé Monteiro, de Tabira-PE; Dudu Morais, de Tabira-PE; Egito Siqueira, de São José do Egito-PE; Genildo Santana, de Tabira-PE; Geni de Fonte, de Itapetim-PE; Gonga Monteiro, de Tabira-PE; Lenelson Piancó, de Itapetim-PE; Lima Júnior, de Tuparetama-PE; Nenem Patriota, de São José do Egito-PE; Paulo Monteiro, de Tabira-PE; Vinícius Gregório, de São José do Egito; Zé Adalberto, de Itapetim-PE.
EVENTOS POPULARES
Caçuá da Cultura, produzido pelo poeta Fernando Marques, em São José do Egito;Balaio Cultural, também produzido por Fernando Marques, em Tuparetama;Cestão da Cultura, organizado pelos poetas Gislândio Araújo e Ayrton Queiroz, com contribuição da Secretaria de Educação de Brejinho; Cantilena, organizada pelo poeta Luizinho, em Ingazeira; Festa de Louro (anual, nos dias 4, 5 e 6 de janeiro), organizado pela família Marinho, com apoio de órgãos público e privado;Itapetim DiVerso, organizado pelos poetas e escritores Zé Adalberto e Lenelson Piancó e com o apoio da prefeitura, em Itapetim; Mesa de Glosas para a Mulher, produzida também pelo poeta Zé Adalberto e com o apoio da prefeitura local, em Itapetim; Missa do Poeta (anual), em Tabira, organizada pela Associação de Poetas e Prozadores de Tabira; Serra Cultural, produzida pelo poeta e músico Henrique Brandão, em Serra Talhada; O Pajeú em Poesia (25/12 – anual), organizada pelo poeta e escritor Alexandre Morais, em Afogados da Ingazeira.