sexta-feira, 18 de maio de 2007

DOIS POEMAS DE AMAZAN


A REVOLTA DAS JUMENTAS

Quem primeiro inventou greve
Aqui em cima do chão
Foi um lote de jumentas
Até com certa razão
É que Deus tava criando
Seus animais e soltando
Uns com urro, outros com berro
E por muito ter trabalhado
Sentiu-se um pouco cansado
Porque ninguém é de ferro.

Deus estava terminando
De inventar o jumento
Mas resolveu descansar
Determinado momento
Chamou um anjo importante
Que era seu ajudante
E amigo particular
E lhe disse com capricho
Termine aqui esse bicho
Que eu vou ali descansar.

E quando Deus retornou
Do seu descanso sagrado
Deu de cara com o jumento
Que já tava terminado
Mas notou logo um defeito
E disse assim desse jeito:
"Rapaz num tem jeito não,
só dá tempo eu me ausentar,
pro negócio desandar
no setor da criação."

É que o seu ajudante
Concluindo o animal
Deixou aquele negócio
Meio desproporcional
Metro e "mei" de comprimento
Maior do que o jumento
Chega passava da venta
Deus disse: "Num presta não,
que não vai ter posição
dele subir na jumenta."

O anjo disse: "Eu ajeito,
Comigo não tem fracasso,
É só pegar uma faca
E tirar aqui um pedaço."
As jumentas escutando,
Foram logo se juntando
E num desejo comum,
Disseram logo em seguida:
"Vê se arruma outra saída,
cortar? De jeito nenhum."

E fizeram uma assembléia
Colocaram em votação
Ganhou por unanimidade
A frase do "corta não"
Com a confusão criada
Deus viu que da enrascada
O anjo não sairia,
Aí entrou em ação
Pra mostrar a dimensão
Da sua sabedoria.

A marreta de dois quilos
Pediu para alguém trazer
E disse: "Segura o jegue,
que a gente vai rebater."
Aí baixou a pancada
Dava cada marretada
Chega esquentava a marreta
E o jegue até hoje em dia
Possui a mercadoria,
Da forma de uma corneta.
0-0-0

O RICÃO DO CABARÉ

Raimundo de Chico Inácio
É um cabra lá do sertão
E o mais estrategista
Que já deu na região
Com os próprios camaradas
Pregava várias ciladas
Ganhou diversas apostas
E com o seu jeito hilário
Dizia que o otário
Tem sempre o bolso nas costas.
Socorro de Margarida
Saiu lá de Conceição
Para morar em Campina.
E no bar do Serrotão
Começou fazer programa
Vendendo o corpo na cama
Fazendo da vida um show
Quando de uma certa vez
Chegou por lá um freguês
Que por ela procurou.
Tinha umas quinze mulheres
No salão do cabaré
O cidadão foi entrando
E perguntando quem é
Socorro de Margarida
?
Uma morena nutrida
Disse assim: -sou eu amigo
E foi ficando de pé
Ele disse: _ quanto é
Pra você ficar comigo
?
Ela foi lhe respondeu
- "é só cinqüenta reais.
O quarto é por minha conta
Não precisa nada mais
".
Ele aceitou sem demora
E na hora de ir embora
Coçou a ponta da venta
E disse: foi bom demais
E deu trezentos reais
Ao invés de dar cinqüenta.
Socorro barreu a quenga
Ficou pra lá e pra cá
O cara disse- amanhã
Eu tornarei a voltar
.
Quando foi no outro dia
Qu'ele chegou já havia
Vinte donas no salão
Uma olhava, outra sorria
Querendo saber quem ia
Se abufelar com o ricão.
E pra surpresa de todas
Ele escolheu novamente
Socorro de Margarida
Que ficou muito contente
E na hora de pagar
Ele pegou perguntar
Quanto lhe devo meu bem?
Socorro olhou para um lado
E de rosto desconfiado
Disse: basta me dar cem.
O cara meteu a mão
Assim no bolso de trás
E arrastou novamente
Outros trezentos reais.
Disse: pegue aqui rainha!
Socorro ficou branquinha
Da cor da casca de um ovo
Disse o cara: _ eu vou embora
E amanhã na mesma hora
Estarei aqui de novo
.

No outro dia o salão
Ficou bastante enfeitado
Botaram até na entrada
Um tapetão encarnado
Cada cabocla bonita
Sorria, fazia fita
Cada qual mais atraente
Imaginem que o plebeu
A mulher que escolheu
Foi Socorro novamente.

As outras mulheres todas
Ficaram de baixo astral
Sem saber o que Socorro
Tinha de especial
E depois da furunfada
Socorro desconfiada
Na hora do pagamento
Que ele disse quanto é?
Ela respondeu: "seu Zé".
Hoje basta dar duzento
."

O cabra foi novamente
Com a mão no bolso de traz
E tirou para ela a quantia
De quatrocentos reais
Quando fez o pagamento
Socorro disse: um momento
Hoje eu quero saber
O que tem em mim que lhe atrai
Daqui o senhor só sai
Depois de me responder
.
Ele disse: eu sou Raimundo
De Chico Inácio, querida
Venho lá de Conceição
E sua mãe Margarida
Vendeu lá duas vaquinhas
,
Um bode e umas galinhas
E pediu pr'eu lhe procurar
Pagou a minha passagem
E mandou com muita coragem
Mil reais pra lhe entregar.
Poemas do site oficial do artista
Amazan é sanfoneiro, cantor, compositor, poeta e declamador de primeira qualidade
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