segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
Microcefalia: Mães no sertão vivem angústia de não ter diagnóstico definitivo
Do blog do Nassif
Valéria é uma das mães de Itapetim que esperam pelo diagnóstico |
Jornal GGN - Na cidade de Itapetim, em Pernambuco, 11 mães que foram notificadas que seus bebês tinham suspeita de terem contraído microcefalia, enfrentam a dúvida de não terem um diagnóstico definitivo. Mesmo avisadas no final de novembro, elas terão de esperar até 28 de dezembro para que suas crianças passem por exames no Hospital Oswaldo Cruz, em Recife.
Ao todo, já foram 804 notificações em Pernambuco, sendo que 251 bebês têm o perímetro cefálico (medida da cabeça em sua parte maior) de 32 centímetros ao menos, classificação que se enquadra na definação de microcefalia da Organização Mundial da Saúde.
Da BBC Brasil
Camilla Costa
Em Itapetim, no sertão de Pernambuco, 11 mães que foram notificadas por estarem com seus bebês suspeitos de terem contraído microcefalia enfrentam a angústia de não terem diagnóstico definitivo sobre uma condição que pode mudar a vida de suas famílias.
Elas moram a cerca de 400 km do Recife, e mesmo notificadas no final do mês de novembro, terão que esperar até o dia 28 de dezembro para que seus bebês sejam examinados no Hospital Oswaldo Cruz, na capital, centro de referência para a investigação da má-formação.
Em todo o Estado, já são 804 notificações — 251 dos bebês são crianças com o perímetro cefálico (medida da cabeça em sua parte maior) de 32 cm ou menos, que se enquadram na definição de microcefalia da Organização Mundial de Saúde.
Tanto as mães como as autoridades locais têm mais dúvidas do que respostas sobre a má-formação e sua relação com o zika vírus, transmitido pelo mosquitoAedes aegypti.
"Na realidade, para nós é tudo novo. Tem menos de um mês que soubemos, a coisa estourou de uma vez. Soubemos que Pernambuco tinha 300 casos, logo já estava em 700. Tivemos que notificar logo as que chegaram", disse a BBC Brasil Arquimedes Machado, prefeito da cidade.
Em Itapetim, a maior parte das mães foi notificada quando Pernambuco ainda admitia em seu protocolo de microcefalia bebês que nasceram com 33 cm de perímetro cefálico. A mudança, anunciada na semana em que a reportagem visitou a cidade, causou confusão entre elas. Cinco bebês atendem ao novo protocolo, mas todos serão examinados, para garantir que nenhum deles teve lesões causadas por uma possível infecção por zika vírus nas mães.
"Eu não queria ir pra Recife por que as pessoas da minha família ficavam dizendo que a criança não precisa. Mas pelo bem do meu filho e pra tirar aquele peso, decidi ir", conta Valéria Barros, de 17 anos, mãe do pequeno Arthur Emanuel, de 2 meses.
"Se a criança tiver alguma coisa no futuro e eu não tiver feito os exames, posso me sentir culpada."
Arthur nasceu com o perímetro cefálico de 33 cm. Portanto, fora do protocolo atual. Valéria, no entanto, teve os sintomas do zika pouco antes de completar quatro meses de gravidez. Segundo as autoridades de saúde pernambucanas, foram encontradas lesões no cérebro de um pequeno percentual de bebês com essa medida.
"A pediatra me explicou que estavam confirmando que a microcefalia era por causa do zika e que poderia dar paralisia, falta de visão, falta de audição, essas doenças físicas, falta de desenvolvimento no corpo. Eu fiquei preocupada, deu vontade de chorar."
"Mas se a gente for pra Recife e o médico disser que ele tem algum problema, eu vou amar do mesmo jeito. O que vale é o amor da mãe", afirma.
Comparando cabeças
A maior parte das mães afirma não ter tido nenhum dos sintomas característicos da doença. Segundo o Ministério da Saúde, 80% dos casos de dengue, zika e febre chikungunya são assintomáticos. Mesmo assim, de acordo com especialistas, ainda é possível que os bebês sejam afetados e, caso a doença seja contraída entre o primeiro e o quarto mês de gestação, tenham microcefalia.
Há pouco mais de um mês, a secretaria de saúde do município começou a conferir os registros de bebês nascidos nas semanas anteriores e informar o Estado os que tinham suspeita de terem contraído a doença. No início do ano, Itapetim teve um surto de dengue, zika e chikungunya com quase 500 casos notificados, dos quais apenas 175 foram confirmados como dengue.
Em abril, o índice de infestação dos imóveis da cidade pelo mosquito da dengue chegou a ser o maior do Estado. Agora, o início de uma nova infestação assusta também as grávidas, que temem as consequências da infecção.
"A gente já percebe que tem gestantes muito preocupadas, com medo. Na realidade, elas não sabem direito qual é a situação", disse à BBC Brasil a secretária de saúde de Itapetim, Jussara Araújo.
"Eu fui até comprar um repelente, passei em uma farmácia e em uns dois supermercados e não tinha mais. As gestantes estão loucas, comprando todos."
Algumas das mulheres com quem a BBC Brasil conversou moravam na zona rural da cidade de 13.900 habitantes e sequer sabiam exatamente qual seria o dia em que viajariam para Recife, até a chegada da reportagem.
No sítio de sua família, Thamires Santos da Silva, de 22 anos, ainda sente a dor do parto cesárea da filha Valentina, que nasceu um dia antes de sua conversa com a BBC Brasil e foi imediatamente notificada — tinha um perímetro cefálico de 31 cm.
"Levei um susto, comecei logo a chorar", relembra. "Ela falou que não era bem certo (que a bebê tinha microcefalia), que era pra fazer o exame pra ver, mas eu fiquei assustada."
Thamires diz não ter sentido nada durante a gravidez e se apoia nas imagens dos bebês acometidos pela má-formação que vê na TV para diminuir o nervosismo antes da viagem a Recife.
"Eu vi na TV que as cabeças eram menores, né. Não sei se é porque é a minha, mas acho que a dela é maior."
No hospital em Recife, o exame médico determinará se as crianças são realmente microcéfalas – conferindo se seu perímetro cefálico foi corretamente medido ou se os bebês são pequenos por outras razões, como a desnutrição de suas mães.
Os médicos ainda podem pedir ecografias ou tomografias dos bebês para conferir se há lesões aparentes no cérebro, além de outros exames.
A prefeitura conseguiu uma van para levar as 11 mães para a capital e vai abrigá-las em uma casa de apoio mobiliada, onde elas devem ficar por cerca de três dias, até que todas sejam atendidas. Voltarão a Itapetim, com alguma confirmação sobre a saúde de seus bebês, na véspera do Ano Novo.
Custo alto
Em um dos sítios mais afastados da cidade, Ana Paula dos Santos, de 19 anos, também diz não acreditar que a filha Jamile, de dois meses e meio, tenha sido afetada pelo vírus.
"Duas mulheres da fazenda vizinha tiveram chikungunya, mas aqui ninguém teve nada. Nem tem água, como é que vai ter dengue?". Sua família chega a passar quatro dias sem água. A promessa antiga de um poço nas imediações da propriedade ainda não foi cumprida.
"A enfermeira falou que ela nasceu com 32 centímetros (de perímetro cefálico), mas ela nasceu muito magrinha."
Segundo o cirurgião João Pereira Borges Neto, que realiza a maior parte dos partos da cidade, as crianças nascidas nas últimas semanas não parecem ter comprometimento neurológico sério.
"Mas por causa do mosquito, temos o receio muito grande de nascerem bebês com microcefalia", disse a BBC Brasil.
Para mães como Ana Paula, a viagem para Recife no fim do mês traz ainda outras preocupações. Apesar de terem transporte e hospedagem fornecidos pela prefeitura, as mães terão que pagar sua alimentação e a de seu acompanhante.
"Eu estou nervosa porque não tenho condição financeira pra ir. Lá é caro", diz.
"É complicado, porque não temos o recurso para darmos assistência a elas e provavelmente não virá. Mas vamos ver o que o município pode fazer para ajudar, porque elas não podem ficar sem se alimentar", diz a secretária de saúde do município.
Para evitar que mães como as de Itapetim precisem fazer viagens, que podem chegar a ser semanais, para o diagnóstico e atendimento dos bebês, o governo do Estado anunciou que ampliará a estrutura de atendimento de Caruaru, Petrolina e Serra Talhada, cidades maiores do interior.
'Enquanto não nascer, não fico tranquila'
Para as mulheres que ainda não deram à luz seus bebês, a espera é ainda mais delicada, em meio a reportagens sobre crise de saúde na TV onipresente nas casas e boatos que circulam na cidade.
"Eu prefiro nem ver televisão", diz Flavia Raiane Vasconcelos de Lima, de 17 anos, grávida de oito meses.
"Em maio eu tive febre e depois as pintas vermelhas apareceram no meu corpo todo, mas o médico fez o ultrassom e disse que está tudo bem."
Uma conversa da BBC Brasil com as gestantes da cidade acabou se tornando uma sessão para tirar dúvidas sobre a microcefalia e os perigos da infecção por zika para os bebês.
Duas das mães, Jackeline Palmeira, de 26 anos, e sua amiga Elisangela Pereira, de 19 anos, estão entre as mais apreensivas.
"Perdi meu primeiro bebê, que nasceu morto aos sete meses. Quando ele nasceu, a cabeça parecia cheia de água. Já minha segunda filha, de 11 anos, tem um problema no coração. Ela já fez cirurgia de sopro. Eu já tenho que ir para Recife para fazer o tratamento dela, tenho gastos e fico cansada", diz Jackeline.
Ela afirma que já pagou por mais exames de ultrassom do que o necessário para garantir que nenhuma alteração é observada no bebê: "Eu perco o sono, sou muito nervosa. Enquanto não nascer, não fico tranquila. Dá pra ver no ultrassom?".
"Tento não ficar preocupada porque o que eu sentir ele sente", diz Elisangela. "Mas meu marido chora, se preocupa demais. Não vê a hora de nascer para ver se sai perfeito."
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
PIADA DE MAU-GOSTO: Postagem em grupo de médicos no Facebook relaciona microcefalia no Nordeste a votos no PT
Do site Saúde Popular
Da Redação
Uma postagem no grupo do Facebook “Dignidade Médica”, comparando os casos de microcefalia no Nordeste com os votos no PT, gerou revolta entre a categoria. A doença, que causa má-formação do cérebro em fetos, tem relação com o vírus Zica, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, o qual tem maior circulação nos estados dessa região.
A mensagem questiona se a doença está sendo realmente causada pelo Zika ou se trata de “adaptação da espécie”. “Cientificamente pode ser a comprovação de que votar no PT faz o cérebro involuir e diminuir de tamanho”, diz a postagem. Logo depois o autor pede que os colegas do grupo o livrem de “comentários julgadores” e argumenta que não poderia “perder a piada”.
A estudante de medicina Izabella Navarro fez um print [salvou a imagem] da publicação e a expôs para fora do grupo, que é fechado aos participantes, por se sentir indignada com tal manifestação. Em um post na mesma rede social, no dia 23 de novembro, ela critica a postura do colega e aponta serem comuns comentários políticos entre os profissionais de saúde.
“[Quem não entende porque questiono a profissão, são pessoas] Que nunca tiveram que ouvir médicos falando que o paciente não vai conseguir a cirurgia que precisa porque votou em determinado candidato, ou que se na próxima eleição votasse em tal partido, o ambulatório iria fechar. Nunca se sentiram impotentes vendo pacientes sendo coagidos por seus médicos”, escreveu.
Aristóteles Cardona, integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, classifica como absurdas as manifestações de preconceito nas redes sociais “e se torna muito mais preocupantes vindas dos profissionais de saúde”.
“Manifestações como essa mostram que, muitas vezes, há um distanciamento do pensamento de um setor importante do país, que são os profissionais de saúde, com as necessidades concretas da nossa população”, explica.
Na descrição do grupo, o “Dignidade Médica” se apresenta como exclusivo para médicos ou estudantes de medicina. O Saúde Popular enviou mensagens a administradores do grupo, mas não houve retorno até a publicação da reportagem.
Microcefalia e vírus Zika
No Brasil, são 1.248 casos suspeitos de microcefalia, identificados em 311 municípios de 14 unidades da Federação. Do total de casos, foram notificados sete óbitos de bebês. Os dados são do último Boletim Epidemiológico de Microcefalia do Ministério da Saúde, com dados até o dia 28 de novembro. O estado de Pernambuco registra o maior número de casos (646), sendo o primeiro a identificar aumento de microcefalia em sua região.O órgão divulga hoje (8), em Brasília, novo boletim com números da doença.
O ministério aponta que há relação entre o vírus Zika e o surto de microcefalia no Nordeste. A confirmação foi possível a partir da identificação, pelo Instituto Evandro Chagas, da presença do Zika em amostras de sangue e tecidos do recém-nascido que morreu no Ceará. Segundo a pasta, essa é uma situação inédita na pesquisa científica mundial.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
GOVERNADORES DO NORDESTE CONTRA GOLPE CUNHA-AÉCIO
Do site Brasil 247- Todos os governadores do Nordeste reagiram nesta quinta-feira 3, por meio de nota, contra a tese de impeachment lançada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com apoio do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG).
Nesta quarta-feira, horas depois de a bancada do PT na Câmara anunciar que votaria contra Cunha no Conselho de Ética, onde o deputado responde por quebra de decoro parlamentar, o presidente da Casa informou que aceitava o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, apresentado por juristas e abraçado pela oposição.
Cunha é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e lavagem de dinheiro. O presidente da Câmara é acusado de ter recebido propina no esquema de corrupção da Petrobras investigado pela Operação Lava Jato e de ter contas secretas na Suíça, onde teria guardado dinheiro de propina.
No texto, os governadores Robinson Farias (PSD–RN), Flavio Dino (PCdoB–MA), Ricardo Coutinho (PSB–PB), Camilo Santana (PT–CE), Rui Costa (PT–BA), Paulo Câmara (PSB–PE), Wellington Dias (PT–PI), Jackson Barreto (PMDB–SE) e Renan Filho (PMDB–AL) manifestam repúdio ao que chamam de "absurda tentativa de jogar a Nação em tumultos derivados de um indesejado retrocesso institucional".
A nota lembra que para haver processo de impeachment, o presidente da República precisa ter cometido crime de responsabilidade, o que não é o caso. "Na verdade, a decisão de abrir o tal processo de impeachment decorreu de propósitos puramente pessoais, em claro e evidente desvio de finalidade", argumentam.
Os governadores dizem ainda estar "mobilizados para que a serenidade e o bom senso prevaleçam." "Em vez de golpismos, o Brasil precisa de união, diálogo e de decisões capazes de retomar o crescimento econômico, com distribuição de renda", defendem.
Em entrevista para comentar a nota, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), condenou a postura "chantagista" de Cunha. “É inaceitável que um dirigente de um poder, sem moral para manter-se à frente da Câmara Federal por ser flagrado em desvios, possa estar à frente de um impedimento de uma presidente sem respaldo legal”, afirmou.
Leia a íntegra:
"Diante da decisão do Presidente da Câmara dos Deputados de abrir processo de impeachment contra a Exma Presidenta da República, Dilma Roussef, os Governadores do Nordeste manifestam seu repúdio a essa absurda tentativa de jogar a Nação em tumultos derivados de um indesejado retrocesso institucional. Gerações lutaram para que tivéssemos plena democracia política, com eleições livres e periódicas, que devem ser respeitadas. O processo de impeachment, por sua excepcionalidade, depende da caracterização de crime de responsabilidade tipificado na Constituição, praticado dolosamente pelo Presidente da República. Isso inexiste no atual momento brasileiro. Na verdade, a decisão de abrir o tal processo de impeachment decorreu de propósitos puramente pessoais, em claro e evidente desvio de finalidade. Diante desse panorama, os Governadores do Nordeste anunciam sua posição contrária ao impeachment nos termos apresentados, e estarão mobilizados para que a serenidade e o bom senso prevaleçam. Em vez de golpismos, o Brasil precisa de união, diálogo e de decisões capazes de retomar o crescimento econômico, com distribuição de renda."
VENHA PARA A 1ª FEIRA AGROECOLÓGICA EM TUPARETAMA
Na próxima quinta-feira, dia 10, acontecerá a 1ª Feira Agroecológica de Tuparetama, uma iniciativa que já acontece com sucesso em muitas cidades do país, facilitando o acesso da população aos pequenos produtores, sem intermediários. A feira fomenta a produção de alimentos saudáveis, de qualidade e sem agrotóxicos, o comércio justo e solidário e o desenvolvimento sustentável. A 1ª Feira Agroecológica de Tuparetama é uma iniciativa da Prefeitura através da sua Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural, com a parceria de instituições como o IPA, A UFRPE /UAST e outras secretarias e diretorias municipais. Há a pretensão de que futuramente a Feira Agroecológica venha se tornar permanente.
Nesta 1ª Feira Agroecológica, além de gêneros alimentícios in natura e beneficiados, teremos também estandes com artesanatos e outros produtos locais. Durante o seu horário de funcionamento, previsto para iniciar às 4 horas da tarde, haverá espaço para palestra com a temática da produção agroecológica e apresentações culturais como o grupo de danças da Escola Francisco Zeferino Pessoa, dupla de repentistas e forró pé-de-serra com Biu Quincas e seu regional, ou seja, a feira será bem dinâmica e com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo das vendas no espaço de comercialização. Todas as atividades da feira serão concentradas no espaço do Pátio da Igreja Matriz.
O secretário de Desenvolvimento Rural, Gilmar Aguiar destaca a importância do apoio da comunidade para fortalecer a produção local. "É preciso incentivar o consumo sustentável, comprar de quem produz com responsabilidade, de forma agroecológica, assim estaremos contribuindo para o sucesso das iniciativas dessas pessoas e o desenvolvimento da nossa localidade. Por tudo isto nós convidamos a população: Venha para a 1ª Feira Agroecológica de Tuparetama!"
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Serra: Produções independentes são destaque em Encontro de Culturas
Dentro da programação noturna do 9º Encontro das Culturas Populares e Tradicionais, além do show de palco onde brilhou o cantor Silvério Pessoa, ganhou destaque nesta quarta-feira (26) a produção audiovisual sertaneja, numa noite dedicada somente a filmes montados e dirigidos por realizadores do Sertão do Pajeú.
Um deles é Carlos Silva, 27, que não escondeu a satisfação em participar de pelo menos quatro produções exibidas no Centro de Artes e Cultura do bairro da Caxixola, em Serra Talhada.
“É satisfatório demais, porque a gente vê o trabalho da gente valorizado num evento dessa magnitude, isso para mim é a realização de um sonho já que dedico a minha vida somente à cultura”, festejou Carlos Silva, mostrando com orgulho o leque de filmes que ajudou a criar, uns como diretor, outros somente atuando.
Até o próximo sábado (28), o 9º Encontro das Culturas Populares e Tradicionais segue com uma programação recheada de filmes exibidos gratuitamente no CEU das Artes.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Mudanças climáticas: hora de (re)agir
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
O maior e mais completo estudo já realizado sobre impactos da mudança climática no Brasil foi divulgado no final de outubro. Trata-se do “Brasil 2040 – Alternativas de Adaptação às Mudanças Climáticas”, encomendado pela Secretaria de Estudos Estratégicos da Presidência da República a grupos de pesquisa do país.
O trabalho buscou estudar e conhecer melhor como o clima poderá variar no Brasil nos próximos 25, 55 e 85 anos, de forma a fundamentar, e assim apoiar políticas públicas de adaptação em cinco grandes áreas: saúde, recursos hídricos, energia, agricultura e infraestrutura (costeira e de transportes).
As revelações apontadas pelos modelos de simulação utilizados no estudo mostram, em todos os cenários, que em 2040 o país será mais quente e mais seco. As temperaturas médias nos meses mais quentes do ano podem subir até 3oC em relação às médias atuais no Centro-Oeste. A região Sul tende a ficar mais chuvosa, enquanto o Sudeste, o Centro-Oeste e partes do Norte e Nordeste teriam reduções de chuvas, em especial nos meses de verão, diminuindo assim a disponibilidade de água no semiárido.
Um dos efeitos dramáticos será a redução na vazão dos rios que abastecem a maior parte da população brasileira. No melhor cenário, vários rios de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Tocantins, Bahia e Pará terão reduções de vazão de 10% a 30%, no melhor cenário Além da água para abastecimento humano e animal, as hidroelétricas sofrerão uma redução na produção de energia. As mais importantes usinas do País – Furnas, Itaipu, Sobradinho e Tucuruí – teriam reduções de vazão de 38% a 57% no pior cenário.
Fica claro que a melhor maneira de adaptar as mudanças climáticas é reduzindo emissões dos gases de efeito estufa, em particular o CO2. Assim é preciso aumentar em muito a eficiência energética (completamente negligenciada pelo poder público), usar mais as fontes renováveis de energia, de modo a reduzir a dependência de termelétricas fósseis e de hidrelétricas, e cobrar um preço pelas emissões de carbono dos setores que mais emitem. Sem contar com o afastamento definitivo de nosso território desta perigosa e cara opção, as usinas nucleares.
No atual contexto já vivenciamos uma crise hídrica que atinge as diferentes regiões do país, em maior ou menor grau. No Nordeste a situação é dramática diante da quantidade de água acumulada nos reservatórios. Tomando como exemplo um dos maiores lagos artificial do mundo, o de Sobradinho com 828 km² de área e 32.200 km³ de água, seu volume de armazenamento atingiu em 12/11 o correspondente a 5,4% do total. Com a cota de água atingindo 381,44m, praticamente o limite para a produção de energia.
Enquanto os cientistas apontam em suas pesquisas, nos estudos que realizam a necessidade urgente de diminuir as emissões dos gases de efeito estufa, evitando assim o aumento médio da temperatura do planeta, e todas suas consequências, os governantes agem como avestruzes diante das evidências. Em Pernambuco não é diferente.
Sabemos que a hidrologia florestal trata das relações entre as florestas, matas e a água, abordando a influência que causam sobre o ciclo hidrológico, e também como a principal salvaguarda dos mananciais de água, garantindo as vazões dos rios, e assim água para as necessidades humanas e animais, além dos usos na agricultura, na indústria, no fornecimento de energia.
Portanto é inquestionável sua importância, tanto no âmbito ambiental, social e econômico. Logo, as más utilizações dos recursos ambientais ocasionam sérios problemas na biota, que consequentemente compromete a qualidade de vida, assim como, influencia o clima e os ciclos biogeoquímicos em uma dada região.
Todavia em Pernambuco, nos últimos 9 anos tem sido fato corriqueiro o desmatamento desenfreado dos vários biomas, da caatinga, aos resquícios da Mata Atlântica existente, da restinga e dos manguezais.
Dados oficiais apontam que no período 2007 a 2015 foram aprovadas 51 leis autorizando a supressão de 5.034 ha de vegetação nativa em área de proteção permanente (APP) para empreendimentos privados e públicos, de forma totalmente irresponsável do ponto de vista ambiental, sem qualquer discussão mais aprofundada na Assembleia Legislativa, onde o Governo tem total maioria.
Mesmo as leis aprovadas de supressão exigir as compensações de plantio, muitas vezes é feitas em local distante do dano, são definidas em acordos escritos sobre os quais não há fiscalização acerca do cumprimento.
Restam simplesmente as afirmativas dos gestores públicos sem nenhuma comprovação.
Achando pouco, o próprio Governo do Estado suprimiu a exigência legal do Estudo de Impacto Ambiental (e com ele as audiências públicas) para a supressão nas APP`s, especialmente para favorecer empreendimentos que alegam serem de interesse público. Com isso em muitas áreas o risco é grande de atingir as nascentes de riachos que são os afluentes de bacias hidrográficas importantes para o abastecimento de água. Em particular as áreas riscos são os “brejos de altitude”, encontrados no Agreste e no Sertão pernambucano.
Estas áreas de altitudes elevadas são as mais ambicionadas para os projetos de aproveitamento da energia dos ventos.
Em consonância aos interesses dos “negócios das eólicas”, o governo de Pernambuco, sem nenhuma precaução e cuidado, atraem os empreendedores com um conjunto de incentivos e benefícios, como a desobrigação de apresentarem Estudo de Impacto Ambiental e autorização legal para desmatar essas áreas. Parques eólicos com dezenas e centenas de aerogeradores estão sendo autorizados a se instalarem em áreas de preservação permanente, áreas de mananciais.
Esta irresponsabilidade ambiental acarretará a remoção da cobertura vegetal, e assim agravará a crise hídrica no Estado. Em torno de 20% do total autorizado para desmatamento, nestes últimos anos foi para atender a instalação dos parques eólicos.
Logo, o discurso do ambientalmente correto, ao considerar a energia eólica uma “fonte limpa” esconde práticas socioambiental injustas.
Outra situação que merece destaque é o polo de termoelétricas a combustíveis fósseis que já estão instaladas, ou que foram anunciadas. Todas elas concentradas no Complexo Industrial Portuário de Suape - CIPS (Termope com 520 MW a gás natural, Suape II de 380 MW a óleo combustível, Novo Tempo, recém-anunciada a gás natural liquefeito com 1.238 MW, a termelétrica da Petrobras para servir a Refinaria Abreu e Lima de 200 MW a óleo combustível). Além da termelétrica a óleo diesel Termomanaus e Pau Ferro I construídas na Área de Preservação Ambiental Aldeia-Beberibe com 240 MW (576 motores instalados). Grandes emissores de gases de efeito estufa tais termoelétricas somam uma potência instalada em torno de 2.600 MW.
Estima-se que se todas estas termoelétricas estiverem funcionado conjuntamente as emissões de CO2 atingirá a soma de 25.000 tonelada/dia, ou 750.000 toneladas/mês, ou ainda aproximadamente 9 milhões toneladas/ano. Uma significativa contribuição às emissões regionais de gases de efeito estufa.
Portanto, entre o discurso e a prática dos governantes pernambucanos vai uma diferença abismal.
Enquanto sem nenhuma consequência prática promovem seminários internacionais, discursam sobre as mudanças climáticas; subtraem as reais informações para a sociedade, e agem sorrateiramente contra o meio ambiente, a vida. Comprometem assim a qualidade de vida das gerações presente e futuras, que no final das contas é quem pagará pelos desmandos destes mesmos governantes.
Poluir mais como propõe o governo de Pernambuco, não vai resolver as questões de emprego e renda, Só torna a população mais pobre e doente. Chegou a hora da sociedade pernambucana (re)agir.
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