Da Redação
Uma postagem no grupo do Facebook “Dignidade Médica”, comparando os casos de microcefalia no Nordeste com os votos no PT, gerou revolta entre a categoria. A doença, que causa má-formação do cérebro em fetos, tem relação com o vírus Zica, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, o qual tem maior circulação nos estados dessa região.
A mensagem questiona se a doença está sendo realmente causada pelo Zika ou se trata de “adaptação da espécie”. “Cientificamente pode ser a comprovação de que votar no PT faz o cérebro involuir e diminuir de tamanho”, diz a postagem. Logo depois o autor pede que os colegas do grupo o livrem de “comentários julgadores” e argumenta que não poderia “perder a piada”.
A estudante de medicina Izabella Navarro fez um print [salvou a imagem] da publicação e a expôs para fora do grupo, que é fechado aos participantes, por se sentir indignada com tal manifestação. Em um post na mesma rede social, no dia 23 de novembro, ela critica a postura do colega e aponta serem comuns comentários políticos entre os profissionais de saúde.
“[Quem não entende porque questiono a profissão, são pessoas] Que nunca tiveram que ouvir médicos falando que o paciente não vai conseguir a cirurgia que precisa porque votou em determinado candidato, ou que se na próxima eleição votasse em tal partido, o ambulatório iria fechar. Nunca se sentiram impotentes vendo pacientes sendo coagidos por seus médicos”, escreveu.
Aristóteles Cardona, integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, classifica como absurdas as manifestações de preconceito nas redes sociais “e se torna muito mais preocupantes vindas dos profissionais de saúde”.
“Manifestações como essa mostram que, muitas vezes, há um distanciamento do pensamento de um setor importante do país, que são os profissionais de saúde, com as necessidades concretas da nossa população”, explica.
Na descrição do grupo, o “Dignidade Médica” se apresenta como exclusivo para médicos ou estudantes de medicina. O Saúde Popular enviou mensagens a administradores do grupo, mas não houve retorno até a publicação da reportagem.
Microcefalia e vírus Zika
No Brasil, são 1.248 casos suspeitos de microcefalia, identificados em 311 municípios de 14 unidades da Federação. Do total de casos, foram notificados sete óbitos de bebês. Os dados são do último Boletim Epidemiológico de Microcefalia do Ministério da Saúde, com dados até o dia 28 de novembro. O estado de Pernambuco registra o maior número de casos (646), sendo o primeiro a identificar aumento de microcefalia em sua região.O órgão divulga hoje (8), em Brasília, novo boletim com números da doença.
O ministério aponta que há relação entre o vírus Zika e o surto de microcefalia no Nordeste. A confirmação foi possível a partir da identificação, pelo Instituto Evandro Chagas, da presença do Zika em amostras de sangue e tecidos do recém-nascido que morreu no Ceará. Segundo a pasta, essa é uma situação inédita na pesquisa científica mundial.