quinta-feira, 19 de maio de 2011
O VIOLEIRO
Composição : Elomar Figueira de Mello
Voz e violão: Elomar
Álbum: Parcelada Malunga (Elomar e Arthur Moreira Lima)
Participações: Zé Gomes / Xangai / Heraldo do Monte
Vou cantá num canto di primero
as coisa lá da mia mudernage
qui mi fizero errante violêro
Eu falo sério e num é vadiage
E pra você qui agora está mi ovino
Juro inté pelo Santo Minino
Vige Maria qui ôve o queu digo
Si fô mintira mi manda um castigo
Apóis pro cantadô i violêro
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhero
Viola, furria, amô, dinhero não
Cantadô di trovas i martelo
Di gabinete, lijêra i moirão
Ai cantadô já curri o mundo intero
Já inté cantei nas portas di um castelo
Dum rei qui si chamava di Juão
Pode acriditá meu companhero
Dispois di tê cantado o dia intero
O rei mi disse fica, eu disse não
Apóis pro cantadô i violêro
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhero
Viola, furria, amô, dinhero não
Si eu tivé di vivê obrigado
um dia i antes dêsse dia eu morro
Deus feiz os homi e os bicho tudo fôrro
já vi iscrito no livro sagrado
qui a vida nessa terra é uma passage
Cada um leva um fardo pesado
é um insinamento qui des na mudernage
eu trago bem dentro do coração guardado
Apóis pro cantadô i violêro
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhero
Viola, furria, amô, dinhero não
Tive muita dô di num tê nada
pensano qui êsse mundo é tudo tê
mais só dispois di pená pela istrada
beleza na pobreza é qui vim vê
vim vê na procissão do Louvado-seja
I o assombro das casa abandonada
côro di cego nas porta das igreja
I o êrmo da solidão das istrada
Apóis pro cantadô i violêro
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhero
Viola, furria, amô, dinhero não
Pispiano tudo do cumêço
eu vô mostrá como faiz um pachola
qui inforca o pescoço da viola
E revira toda moda pelo avêsso
i sem arrepará si é noite ou dia
vai longe cantá o bem da furria
sem um tostão na cuia u cantadô
canta inté morrê o bem do amô.
Apóis pro cantadô i violêro
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhero
Viola, furria, amô, dinhero não
Viola, furria, amô, dinhero não...
Ministério da Cultura "oferece" Disney On Ice. É verdade?!
por Luiz Carlos Azenha
Hoje eu estava em um táxi quando ouvi o jingle: o Ministério da Cultura “oferece” Disney On Ice. Não, não era piada do CQC. Nem do Zé Simão. Era de verdade: o Ministério da Cultura oferece Disney On Ice.
O comercial dava as datas e os locais da apresentação.
Presumo que o pessoal da Disney tenha se valido das leis de incentivo à cultura para baratear os custos do ingresso. Ou seja, tem dinheiro público promovendo Disney On Ice!
Isso diz absolutamente tudo sobre o Brasil. O Ministério da Cultura, aquele que nos livrou dos imperialistas do Creative Commons, promove com dinheiro público a patinação do Mickey e da Minnie!
Nordeste diminui diferenças em relação ao “próspero sul”
Por Sandro Araújo
Em artigo publicado na edição desta semana, a revista The Economist narra a evolução da região nordeste, enfatizando que “A região mais pobre do país está diminuindo a distância com o próspero sul”.
O texto cita reportagem de 1983 do Jornal do Brasil, que na época cobria a seca que assolava o nordeste do país, na qual nordestinos foram encontrados alimentando-se de ratos e calangos.
Segundo a The Economist, recentemente, o nordeste tem se tornado uma região de destaque no país. A taxa de crescimento do PIB da região subiu em média 4,2% ao ano na década passada, enquanto o país cresceu 3,6%.
O Bolsa Família, programa do Governo Federal, teria sido importante mas, segundo Marcelo Neri, pesquisador da FGV, outras políticas públicas teriam ajudado. De fato, três quartos do crescimento da renda teria ocorrido a partir de 2003, ano da posse de Lula na Presidência.
Este aumento no poder aquisitivo estaria atraindo diversas empresas para a região, como a Kraft Foods, que abriu sua primeira fábrica no nordeste e o Pão de Açúcar, que está ampliando sua rede.
terça-feira, 3 de maio de 2011
LANÇAMENTO DO NOVO LIVRO DE NENEM PATRIOTA EM TUPARETAMA
Na próxima sexta-feira, dia 06, durante o 4º BALAIO CULTURAL acontecerá em Tuparetama o Lançamento do Livro do “Casebres, Castelos e Catedrais” do poeta, professor e militante cultural Nenem Patriota. O livro tem prefácio de Margarida Silva e apresentação de Miriam Correia.
Nenê Patriota é considerado um porta-voz perene da cultura egipiciense e pajeuzeira. Ele está envolvido nos mais diversos eventos culturais, religiosos e políticos realizados na região como a Festa Universitária, cantorias, congresso de violeiros, teatros e na criação do Quintal da Cantoria, evento mensal de grande repercussão.
A programação de lançamento, com participação de poetas declamadores do Movimento de Cultura Popular de São José do Egito, poetas da APPTA de Tabira e artistas de Tuparetama terá início às 20:00, no Espaço de Eventos da Academia da Cidade.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Do Poeta Gilmar Leite: RETIRANTES DO PAJEÚ
Do Blog do poeta: AGUAS DO PAJEÚ
"O poema refeito, logo abaixo, é fruto da inspiração vinda das leituras dos romances que tratam da grandes secas, do poema Os flagelados de Rogaciano Leite e da minha experiência de vida, quando ouvia dos meus antepassados os relatos das grandes secas na região do Pajeú."
RETIRANTES DO PAJEÚ
Poema épico teatral
Explode o sol. Chamas de fogo queimam a terra!
As pedras no Sertão faíscam como brasas.
No chão, as rugas sãos as marcas do verão,
E no horizonte, os urubus movem as asas.
Em cada lar deságua um triste mar de choro.
Lamentos, preces, orações, formam um coro,
Das vidas que, padecem sob algumas casas.
Um vulto magro, vestido de farrapos,
Que toma forma na lúgubre residência,
Demonstra um corpo de aparência esquelética
Que assusta quando mostra a triste existência.
Ele ergue a vista para a grande sequidão
Emite um grito numa forte assombração
E fala ao céu, chorando...Pedindo clemência.
Oh meu Deus! Venha, veja as dores do Sertão!
O Pajeú veloz não corre mais no leito
Só as lágrimas em tufos, descem em vertentes,
E cobrem as folhas murchas do meu velho peito.
Oh, meu Deus! Veja, sob as casas só há prantos...
Meus sonhos secaram, não tem mais encantos!
Deus! Oh meu Deus! Por que sofremos desse jeito?
Assim, a pobre mãe, coberta de tristeza,
Envolta em choro, reza, prantos e louvações,
Suplica a Deus, que afaste os sórdidos horrores
Da fome, que demonstra mil assombrações.
O seu clamor se perde dentro do infinito...
E triste, solta do seu peito um forte grito
Que ecoa nas chapadas, vales e grotões.
Já que o governo não percebe os sertanejos!
Já que o céu não escuta os mórbidos clamores!
Só resta partir! Mas, não sabem qual destino.
No peito a flor do sonho se transforma em dores...
O ocaso da incerteza nubla a existência
Cobrindo a frágil luz da pouca consciência
De vidas tristes, que padecem em dissabores.
De corações feridos, deixam as suas casas,
E sem destino, buscam plácidos aposentos;
A sombra que encontram, são grandes abutres,
Fazendo voltas, dando vôos bem agourentos.
Nos troncos despelados das árvores nuas,
Os magros retirantes comem raízes cruas,
E amargam a vida com travosos alimentos.
Os tristes retirantes partem do Sertão,
Sentindo o aperto da saudade perfurante,
Do Pajeú, lugar que foi terra de sonhos,
Mostrado na luz da esperança vibrante!
O vil presente mancha todo o seu passado...
A luz confusa dum futuro tão nublado,
Clareia a sordidez da cena horripilante.
O Pajeú faz curvas no leito vazio...
Os retirantes fracos, feito moribundos,
Por entre galhos como loucos maltrapilhos,
Revelam cenas de fantasmas de outros mundos.
No solo ressequido morre a esperança
E vez enquanto surge a luz de uma criança
Na forma dum sorriso, que foge em segundos.
Na mata ressequida, secos marmeleiros,
Na mesma cena dos fantasmas retirantes
Formam imagens da decrépita existência
Na tela dum filme de vidas humilhantes.
Tombadas plantas com seus galhos estendidos,
Parecem com os retirantes desnutridos
Que assustam, demonstrando cenas degradantes.
Mães lânguidas, crianças fracas, pais chorosos,
São as cenas do Pajeú seco e tristonho
Que sepultou por entre as rochas afiadas
Promessas floridas dum mundo bem risonho.
Nas casas só ficaram lânguidas lembranças...
O vil presente enterra líricas esperanças...
O porvir fecha as portas dúlcidas do sonho.
Não há tempo pro sonho! Só há o presente!
Que mostra as suas garras frias e afiadas,
Tirando os poucos traços de felicidade
Do Ser frágil que sofre por sobre as estradas.
As luzes do viver se mostram espectrais...
Envolto em grito, choro, pranto e loucos ais,
As pobres vidas pisam em trilhas calcinadas.
Oh Leitor! Veja nas imagens destes versos!
Perceba a dor gritando o sórdido sofrimento,
Que nem Dante viu sob os círculos infernais,
As dores mais brutais no mundo do tormento.
Lá, Dante assistiu o sofrer dos pecadores...
Aqui, demonstro os prantos dos agricultores...
Que são homens perdidos, sofrendo ao relento.
Estes homens, outrora, foram cavaleiros!
Os bravos que cruzavam a caatinga voraz,
De esporas, rédeas, laço, perneira e gibão
Pegavam o gado sobre um cavalo fugaz.
Agora, nem dão mais passadas tão seguras.
Caminham cabisbaixos, nas estradas duras,
Pisando sobre as pedras e os cactos brutais.
A magra mãe que se parece um graveto
Conduz a filha presa na fraca cintura,
Sem forças tomba sobre os duros carrascais
E cai por cima da esquálida criatura.
Um grito seco da criança logo ecoa
Levando o gemido pro vale e pra lagoa
Que expressa à vida padecendo na tortura.
O frágil Ser contrai-se e chora bem baixinho...
A mãe lhe oferta o decaído peito mole
No doce sonho que ela encontre o alimento,
Que acalme o pranto, tendo o leite que a console.
A boca seca com furor, tremendo puxa,
E sente que ao puxar a glândula tão murcha,
Nenhum leite do seu magro peito se bole.
Ao Invés do leite surge um pouco de sangue!
O choro brota sobre o rosto tão tristonho...
As cavas do sorriso ficam inundadas,
Que afogam a vida, sufocando o mar do sonho.
Os lábios secos, duros como a terra bruta,
Nos seios busca o leite numa triste luta
Mostrando cenas dum viver pobre e bisonho.
A criancinha chora e grita: Ô Mamãe!
Meu corpo treme como uma livre bandeira!
Eu não consigo andar, sinto os pés fraquejando;
Meus passos não conseguem subir uma ladeira.
O meu corpo sem força, lânguido definha.
Eu não sei o lugar que minha alma caminha...
E a fome, transformou-se numa companheira.
O choro da criança perde-se nas serras
E fica preso sobre os cactos brutais
Seu corpo sem vigor se arrasta nas estradas
Passando nos grotões, por entre os carrascais.
As lâminas do vento cortam como faca
Rasgando a pele, definhada tão fraca,
Que sofre os dantescos castigos infernais.
O sol derrama o forte fogo abrasador
Na vida sem fulgures do povo faminto,
Que se mostra cortada pelo sofrimento
E presa num confuso e grande labirinto.
Sem esperança e sem trajetos nos caminhos,
O povo pobre sofre em sórdidos espinhos
Sentindo a vida travosa como um absinto.
A vida sofre ao longo das secas estradas...
O sol voraz desnuda os poucos marmeleiros...
As rochas mostram lâminas que são cortantes...
E os troncos são fantasmas de pobres guerreiros.
Sem vida, desfalecem lânguidas juremas,
Mostrando imagens dos mais fúnebres cinemas
Que expressam o desengano em trágicos roteiros.
O sonho não habita a vida do flagelo...
A fome expressa cores lúgubres, dolentes...
E a vida tomba sobre os secos carrascais
Gritando sobre os vales, ecos estridentes.
Os homens do poder pra dor ficam de costas!
Os pobres retirantes rogam de mãos postas
Pedindo a Deus que veja as dores tão ardentes.
Oh Deus! Olhai pros campos, veja a sequidão!
Está tudo sem vida... Só resta a tristeza.
O sonho da alegria já foi sepultado
Por entre as pedras da decrépita certeza.
Aqui só tem água nas velhas faces magras,
E as dores são terríveis... Já viraram pragas,
Nas almas tristes, na jornada da incerteza.
Assim, falam por entre os duros carrascais
As vozes fracas dos sofridos retirantes,
Que tem os pés feridos nas juremas mortas
Cortados por galhadas que são perfurantes.
O sol do sonho morre na vida descrente...
Nenhuma aurora de abrigo se faz presente...
Sem rumo, dão seus passos bem cambaleantes.
Perdidos, procuram o velho Pajeú...
Que sem água, só resta à grande sequidão.
O pai vê seu filhinho lânguido de fome
Que treme na frieza da desnutrição.
Um nome, nem sequer botou no fraco filho,
Pois sabe que bem breve o frágil maltrapilho
Vai ter fim nas estradas secas do Sertão.
Tombando sobre as pedras, chora a menininha,
Tão fina como um galho quando a casca seca,
Nas mãos conduz seu lindo sonho de criança
Expressado na forma linda da boneca.
Pro seu brinquedo fala leve e bem baixinho
Dizendo com suave e plácido carinho
Que vão ter alimento depois da soneca.
Leitor! Não fique na ilusão deste momento,
Da vida que, se mostra na pura inocência.
Levante os olhos, veja o sórdido flagelo
Deitando o sol no seco campo da existência.
Leitor! Perceba bem o pranto e a forte dor!
Cada aurora de vida perdendo o esplendor,
Que rouba dos famintos a luz da consciência.
Perceba bem, no solo bruto e ressequido,
Homens aos trapos, que só tem na pele os ossos,
E dentro d’alma a dor que jorra o desengano
Expresso num deserto que não possui poços.
Andando, cabisbaixos, buscam um pouco d’água,
E sofrem sob um rio que só transborda mágoa
Na enchente duma fome que só tem destroços.
Sem pátria, sem nação, sem luzes da esperança,
Os homens sem rumo pisam sobre os tocos
E tombam nos rochedos como condenados
Na imensa procissão, como um bando de loucos.
O quadro da tragédia mostra um cego país,
Que não vê o sofrimento do povo infeliz
E oferta a luz da condição para bem poucos.
"O poema refeito, logo abaixo, é fruto da inspiração vinda das leituras dos romances que tratam da grandes secas, do poema Os flagelados de Rogaciano Leite e da minha experiência de vida, quando ouvia dos meus antepassados os relatos das grandes secas na região do Pajeú."
RETIRANTES DO PAJEÚ
Poema épico teatral
Explode o sol. Chamas de fogo queimam a terra!
As pedras no Sertão faíscam como brasas.
No chão, as rugas sãos as marcas do verão,
E no horizonte, os urubus movem as asas.
Em cada lar deságua um triste mar de choro.
Lamentos, preces, orações, formam um coro,
Das vidas que, padecem sob algumas casas.
Um vulto magro, vestido de farrapos,
Que toma forma na lúgubre residência,
Demonstra um corpo de aparência esquelética
Que assusta quando mostra a triste existência.
Ele ergue a vista para a grande sequidão
Emite um grito numa forte assombração
E fala ao céu, chorando...Pedindo clemência.
Oh meu Deus! Venha, veja as dores do Sertão!
O Pajeú veloz não corre mais no leito
Só as lágrimas em tufos, descem em vertentes,
E cobrem as folhas murchas do meu velho peito.
Oh, meu Deus! Veja, sob as casas só há prantos...
Meus sonhos secaram, não tem mais encantos!
Deus! Oh meu Deus! Por que sofremos desse jeito?
Assim, a pobre mãe, coberta de tristeza,
Envolta em choro, reza, prantos e louvações,
Suplica a Deus, que afaste os sórdidos horrores
Da fome, que demonstra mil assombrações.
O seu clamor se perde dentro do infinito...
E triste, solta do seu peito um forte grito
Que ecoa nas chapadas, vales e grotões.
Já que o governo não percebe os sertanejos!
Já que o céu não escuta os mórbidos clamores!
Só resta partir! Mas, não sabem qual destino.
No peito a flor do sonho se transforma em dores...
O ocaso da incerteza nubla a existência
Cobrindo a frágil luz da pouca consciência
De vidas tristes, que padecem em dissabores.
De corações feridos, deixam as suas casas,
E sem destino, buscam plácidos aposentos;
A sombra que encontram, são grandes abutres,
Fazendo voltas, dando vôos bem agourentos.
Nos troncos despelados das árvores nuas,
Os magros retirantes comem raízes cruas,
E amargam a vida com travosos alimentos.
Os tristes retirantes partem do Sertão,
Sentindo o aperto da saudade perfurante,
Do Pajeú, lugar que foi terra de sonhos,
Mostrado na luz da esperança vibrante!
O vil presente mancha todo o seu passado...
A luz confusa dum futuro tão nublado,
Clareia a sordidez da cena horripilante.
O Pajeú faz curvas no leito vazio...
Os retirantes fracos, feito moribundos,
Por entre galhos como loucos maltrapilhos,
Revelam cenas de fantasmas de outros mundos.
No solo ressequido morre a esperança
E vez enquanto surge a luz de uma criança
Na forma dum sorriso, que foge em segundos.
Na mata ressequida, secos marmeleiros,
Na mesma cena dos fantasmas retirantes
Formam imagens da decrépita existência
Na tela dum filme de vidas humilhantes.
Tombadas plantas com seus galhos estendidos,
Parecem com os retirantes desnutridos
Que assustam, demonstrando cenas degradantes.
Mães lânguidas, crianças fracas, pais chorosos,
São as cenas do Pajeú seco e tristonho
Que sepultou por entre as rochas afiadas
Promessas floridas dum mundo bem risonho.
Nas casas só ficaram lânguidas lembranças...
O vil presente enterra líricas esperanças...
O porvir fecha as portas dúlcidas do sonho.
Não há tempo pro sonho! Só há o presente!
Que mostra as suas garras frias e afiadas,
Tirando os poucos traços de felicidade
Do Ser frágil que sofre por sobre as estradas.
As luzes do viver se mostram espectrais...
Envolto em grito, choro, pranto e loucos ais,
As pobres vidas pisam em trilhas calcinadas.
Oh Leitor! Veja nas imagens destes versos!
Perceba a dor gritando o sórdido sofrimento,
Que nem Dante viu sob os círculos infernais,
As dores mais brutais no mundo do tormento.
Lá, Dante assistiu o sofrer dos pecadores...
Aqui, demonstro os prantos dos agricultores...
Que são homens perdidos, sofrendo ao relento.
Estes homens, outrora, foram cavaleiros!
Os bravos que cruzavam a caatinga voraz,
De esporas, rédeas, laço, perneira e gibão
Pegavam o gado sobre um cavalo fugaz.
Agora, nem dão mais passadas tão seguras.
Caminham cabisbaixos, nas estradas duras,
Pisando sobre as pedras e os cactos brutais.
A magra mãe que se parece um graveto
Conduz a filha presa na fraca cintura,
Sem forças tomba sobre os duros carrascais
E cai por cima da esquálida criatura.
Um grito seco da criança logo ecoa
Levando o gemido pro vale e pra lagoa
Que expressa à vida padecendo na tortura.
O frágil Ser contrai-se e chora bem baixinho...
A mãe lhe oferta o decaído peito mole
No doce sonho que ela encontre o alimento,
Que acalme o pranto, tendo o leite que a console.
A boca seca com furor, tremendo puxa,
E sente que ao puxar a glândula tão murcha,
Nenhum leite do seu magro peito se bole.
Ao Invés do leite surge um pouco de sangue!
O choro brota sobre o rosto tão tristonho...
As cavas do sorriso ficam inundadas,
Que afogam a vida, sufocando o mar do sonho.
Os lábios secos, duros como a terra bruta,
Nos seios busca o leite numa triste luta
Mostrando cenas dum viver pobre e bisonho.
A criancinha chora e grita: Ô Mamãe!
Meu corpo treme como uma livre bandeira!
Eu não consigo andar, sinto os pés fraquejando;
Meus passos não conseguem subir uma ladeira.
O meu corpo sem força, lânguido definha.
Eu não sei o lugar que minha alma caminha...
E a fome, transformou-se numa companheira.
O choro da criança perde-se nas serras
E fica preso sobre os cactos brutais
Seu corpo sem vigor se arrasta nas estradas
Passando nos grotões, por entre os carrascais.
As lâminas do vento cortam como faca
Rasgando a pele, definhada tão fraca,
Que sofre os dantescos castigos infernais.
O sol derrama o forte fogo abrasador
Na vida sem fulgures do povo faminto,
Que se mostra cortada pelo sofrimento
E presa num confuso e grande labirinto.
Sem esperança e sem trajetos nos caminhos,
O povo pobre sofre em sórdidos espinhos
Sentindo a vida travosa como um absinto.
A vida sofre ao longo das secas estradas...
O sol voraz desnuda os poucos marmeleiros...
As rochas mostram lâminas que são cortantes...
E os troncos são fantasmas de pobres guerreiros.
Sem vida, desfalecem lânguidas juremas,
Mostrando imagens dos mais fúnebres cinemas
Que expressam o desengano em trágicos roteiros.
O sonho não habita a vida do flagelo...
A fome expressa cores lúgubres, dolentes...
E a vida tomba sobre os secos carrascais
Gritando sobre os vales, ecos estridentes.
Os homens do poder pra dor ficam de costas!
Os pobres retirantes rogam de mãos postas
Pedindo a Deus que veja as dores tão ardentes.
Oh Deus! Olhai pros campos, veja a sequidão!
Está tudo sem vida... Só resta a tristeza.
O sonho da alegria já foi sepultado
Por entre as pedras da decrépita certeza.
Aqui só tem água nas velhas faces magras,
E as dores são terríveis... Já viraram pragas,
Nas almas tristes, na jornada da incerteza.
Assim, falam por entre os duros carrascais
As vozes fracas dos sofridos retirantes,
Que tem os pés feridos nas juremas mortas
Cortados por galhadas que são perfurantes.
O sol do sonho morre na vida descrente...
Nenhuma aurora de abrigo se faz presente...
Sem rumo, dão seus passos bem cambaleantes.
Perdidos, procuram o velho Pajeú...
Que sem água, só resta à grande sequidão.
O pai vê seu filhinho lânguido de fome
Que treme na frieza da desnutrição.
Um nome, nem sequer botou no fraco filho,
Pois sabe que bem breve o frágil maltrapilho
Vai ter fim nas estradas secas do Sertão.
Tombando sobre as pedras, chora a menininha,
Tão fina como um galho quando a casca seca,
Nas mãos conduz seu lindo sonho de criança
Expressado na forma linda da boneca.
Pro seu brinquedo fala leve e bem baixinho
Dizendo com suave e plácido carinho
Que vão ter alimento depois da soneca.
Leitor! Não fique na ilusão deste momento,
Da vida que, se mostra na pura inocência.
Levante os olhos, veja o sórdido flagelo
Deitando o sol no seco campo da existência.
Leitor! Perceba bem o pranto e a forte dor!
Cada aurora de vida perdendo o esplendor,
Que rouba dos famintos a luz da consciência.
Perceba bem, no solo bruto e ressequido,
Homens aos trapos, que só tem na pele os ossos,
E dentro d’alma a dor que jorra o desengano
Expresso num deserto que não possui poços.
Andando, cabisbaixos, buscam um pouco d’água,
E sofrem sob um rio que só transborda mágoa
Na enchente duma fome que só tem destroços.
Sem pátria, sem nação, sem luzes da esperança,
Os homens sem rumo pisam sobre os tocos
E tombam nos rochedos como condenados
Na imensa procissão, como um bando de loucos.
O quadro da tragédia mostra um cego país,
Que não vê o sofrimento do povo infeliz
E oferta a luz da condição para bem poucos.
Pacote do projeto A Cor da Cultura é disponibilizado na internet
Fonte: FUNDAÇÃO PALMARES
Por Daiane Souza
Produzido para contribuir para a inserção da temática da cultura afro-brasileira nas escolas e lançado na última segunda-feira, o segundo pacote pedagógico A Cor da Cultura já está disponível para download no site do projeto. A iniciativa visa fazer com que professores e estudantes percebam com outro olhar o continente africano e sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade brasileira.
O pacote é mais uma medida prática adotada a partir da aprovação da Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares do País. Integram o conjunto DVDs com novos episódios das cinco séries que fazem parte do projeto, dois cadernos pedagógicos e três mapas – um do continente africano, outro da diáspora africana e outro dos valores civilizatórios afro-brasileiros.
COMO ADQUIRIR – Professores e interessados podem ter acesso ao novo material em pdf no portal www.acordacultura.org.br além de 97 episódios em vídeo de duas das cinco séries já lançadas. O Ministério da Educação (MEC) disponibilizará o material físico aos municípios, porém, as escolas devem se cadastrar também via o citado portal. A solicitação ao MEC deve ser feita pelas secretarias de educação, incluindo o projeto em seu plano de ação de 2012.
A Cor da Cultura é resultado de parceria entre o Ministério da Educação (MEC), a Fundação Cultural Palmares (FCP), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), o Canal Futura, a Petrobras, o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan) e a Fundação Roberto Marinho.
_______________________________
2011 foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes.
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