sábado, 10 de outubro de 2015

Lia Bianchini: Uma mulher é estuprada a cada dez minutos no Brasil


Por Lia Bianchini
No blog O Cafezinho 

Os passos tornavam-se mais apressados na medida em que ela percebia que não estava sozinha na rua, até então, vazia. O barulho dos pés que vinham atrás se tornava cada vez mais próximo de seus ouvidos. A poucos metros de casa, ela tenta correr. Em vão. Seu perseguidor é mais rápido, conseguindo deixa-la encurralada e imobilizá-la. Jogada ao chão, os segundos parecem horas. Desde aquela noite, o rosto e o corpo de um desconhecido acompanham-na em todos os seus dias. 

A história não é ficcional. Ela foi contada por G., estudante de pedagogia, estuprada no caminho cotidiano de volta da faculdade para seu apartamento. O caso de G. está longe de ser isolado, pois, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2013, o número total de estupros registrados no Brasil foi de 50.320, equivalente à média de seis a cada hora, um a cada dez minutos. 

“A violência sexual é a mais cruel forma de violência depois do homicídio, porque é a apropriação do corpo da mulher – isto é, alguém está se apropriando e violentando o que de mais íntimo lhe pertence. Muitas vezes, a mulher que sofre esta violência tem vergonha, medo, tem profunda dificuldade de falar, denunciar, pedir ajuda”, explica Aparecida Gonçalves, secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. 

De fato, apesar de constante, a violência sexual se perpetua silenciosamente. De acordo com dados do Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan), há estimativa de que, no Brasil, pelo menos 527 mil pessoas são estupradas por ano e que apenas 10% destes casos chegam ao conhecimento da polícia. Ainda segundo informações do Sinan, 89% das vítimas são mulheres e 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos e conhecidos da vítima. 

Para a advogada Natália Trindade, existe um fator moral que impede as vítimas de notificarem a violência sofrida. “No Brasil, ainda há muito a ideia de que a mulher que foi vítima de violência sexual é a verdadeira culpada pela violência sofrida. Culpada porque estava andando sozinha, culpada porque estava usando roupa curta, culpada porque foi simpática, culpada porque é mulher. Mas existem também questões financeiras: muitas das mulheres vítimas de violência sexual são dependentes economicamente do seu violentador”, afirma. 

A advogada problematiza também o atendimento às vítimas, que desfavorece a denúncia da violência. “Nesse ponto, nos deparamos com o machismo institucional: policiais que minimizam a violência sofrida, delegado que realiza o atendimento pré-julgando a vítima, a enorme burocracia para que ocorra o julgamento”, diz Natália. O que diz a justiça No código penal brasileiro, estupro é constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso, conforme definido no capítulo sobre os crimes contra a liberdade sexual do Código Penal, após a unificação dos tipos penais "atentado violento ao pudor" e "estupro", com a Lei nº 12.015, em 2009. 

Em complemento, a Lei Maria da Penha ajuda a evidenciar formas de violência sexual que vão além do estupro. Em seu artigo 7, alínea III, a Lei Maria da Penha descreve a violência sexual cometida em contexto de violência doméstica e familiar como sendo: qualquer conduta que constranja a vítima a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade; que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. Além disso, desde 2013, o atendimento obrigatório e imediato no Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência sexual é garantido pela Lei nº 12.845, que estipula a obrigatoriedade do fornecimento da pílula do dia seguinte em todos os hospitais da rede pública, garante o direito a diagnóstico e tratamento de lesões no aparelho genital, o amparo médico, psicológico e social, a profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis, a realização de exame de HIV e o acesso a informações sobre seus direitos legais e sobre os serviços sanitários disponíveis na rede pública. 

O Código Penal garante também o direito ao aborto às vítimas de violência sexual. Para Natália Trindade, o Código Penal brasileiro passou a prezar pela autonomia das mulheres. “Desde 2009, a mulher não é mais vista pela justiça como um corpo sexualizado pertencente ao seu pai ou marido, e sim como um sujeito de direito que precisa ter seus direitos sexuais e reprodutivos garantidos”, afirma a advogada. 

Além das Leis, em 2005 foi lançada a Norma Técnica: Atenção Humanizada ao Abortamento, pelo Ministério da Saúde, que retira a obrigação da vítima de estupro em apresentar um Boletim de Ocorrência (BO) para dispor do direito de atendimento na rede de saúde. O objetivo é dar atenção prioritária à saúde da vítima, antes de encaminhá-la a um órgão policial. 

As consequências psicológicas 

 G. foi vítima de violência sexual aos 22 anos de idade. Ela morava sozinha no Rio de Janeiro, cidade para a qual se mudou para fazer faculdade, e, após a violência sofrida, teve que voltar para Resende, onde moram seus pais. A jovem foi diagnosticada com um quadro grave de depressão e passou a fazer terapia e a tomar medicamentos psiquiátricos regularmente. Hoje, três anos após o caso, G. voltou a estudar, mas nunca largou o tratamento médico e psicológico. 

Segundo a psicóloga Thalita Neves, as vítimas são duplamente violentadas: física e psicologicamente. “As mulheres vítimas de violência sexual acabam vivenciando diversas formas de sofrimento, dentre elas, a violência psicológica, caracterizada pela transgressão do estado emocional da vítima envolvendo traumas e danos morais. Grande parte dessas mulheres passa por situações de ameaças, medo, danos emocionais e constrangimento. São mulheres submetidas à violência e ao receio de perderem a própria vida, o que comumente denominamos de “pressão psicológica”, explica Thalita. 

A pesquisa “Violência sexual: estudo descritivo sobre as vítimas e o atendimento em um serviço universitário de referência no Estado de São Paulo” demonstra que, para além das consequências físicas imediatas (gravidez, infecções do aparelho reprodutivo e doenças sexualmente transmissíveis), as mulheres vítimas de violência sexual têm grande probabilidade de desenvolver distúrbios na esfera da sexualidade, apresentando maior vulnerabilidade para sintomas psiquiátricos, principalmente depressão, pânico, tentativa de suicídio, abuso e dependência de substâncias psicoativas. No entanto, a violência sexual não afeta psicologicamente apenas as mulheres que já foram vítimas. 

O medo de ser estuprada ou assediada é uma constante na vida das mulheres. De acordo com a campanha “Chega de Fiu Fiu”, realizada em 2013 pelo site Think Olga, que ouviu 7.762 mulheres, 99,6% delas já foram assediadas em locais públicos; 81% das participantes já deixaram de fazer alguma coisa (ir a algum lugar, passar na frente de uma obra, sair a pé) com medo do assédio; e 90% delas já trocaram de roupa por medo de ser assediada. 

Direitos em xeque 

Aguarda deliberação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados um Projeto de Lei que afeta diretamente os direitos básicos já previstos em Lei para as mulheres vítimas de violência sexual: o PL 5069/2013. De autoria do atual presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o projeto pretende tipificar como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo, prevendo penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto. 

Caso aprovado, o projeto deve alterar a definição de violência sexual, que passará a considerar apenas casos que resultam em danos físicos e psicológicos; o atendimento médico-hospitalar, uma vez que a vítima deverá, como primeiro passo, registrar queixa da violência sofrida, passar por um exame de corpo de delito e, só então, ser atendida em uma rede de saúde; o tratamento preventivo, pois o projeto dificulta o acesso à pílula do dia seguinte e a informações sobre direitos legais; e o aborto, um direito garantido às vítimas de violência sexual que deixará de existir. 

“Esse PL representa um retrocesso aos direitos das mulheres. Ele submete a mulher ao machismo institucional. Infelizmente, temos na Câmara dos Deputados a tal bancada da "bíblia", formada por religiosos que querem preservar a "vida" a qualquer custo, ainda que este custo seja a vida da mulher. Esse PL é só mais um dentre muitos que compõem a obra dessa bancada que visa criminalizar de todas as formas a mulher e a sua saúde”, afirma a advogada Natália Trindade.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Evento celebrará 6 anos do Coletivo Cultural de Arcoverde - COCAR


Neste sábado (10/out), o Coletivo Cultural de Arcoverde - COCAR comemora seis anos de atuação. Este momento será celebrado com dois lançamentos de obras de artistas da Região. O arcoverdense Kleber Araújo apresenta o CD Cinema Novo e o poeta de Sertânia, Josessandro Andrade, lança o seu livro de poesias Com Cheiro de Mar e Quixabeira.

O evento ocorrerá na Cachaçaria Riacho do Mel, localizada na Praça da Bandeira, em Arcoverde, e terá início a partir das 17 h com o lançamento do livro, onde haverá um recital apresentado por declamadores de Sertânia e uma roda de conversa abordando a poesia no Sertão do Moxotó, esta conduzida pelo Professor Edison Roberto.

Na sequência, vem a parte musical, onde Kleber, com os convidados Assis Calixto (Coco Raízes de Arcoverde), Sílvia Regina, Leandro e Lídio Vaz, farão a apresentação das músicas constantes do CD Cinema Novo e de outros temas ligados à tradição musical do Sertão Nordestino. Intercalando poesias nos intervalos musicais, farão declamações os artistas Edilza Vasconcelos, Jane Sousa e Diosman Avelino, este da cidade de Pesqueira.

Josessandro Andrade é um dos editores do Jornal de Poesia Cabeça de Rato, fundado em 1988, em sua terra Sertânia-PE, e que até hoje divulga poetas dos Sertões do Moxotó e Pajeu Pernambucano e do Cariri Paraibano. Publicou seus poemas durante muito tempo em jornais alternativos e hoje tem seu trabalho destacado na internet no Site Portal Interpoetíca (Cida Pedrosa e Sennor Ramos), e o blog literário Domingo com Poesia (Natanael Lima).

O Seu livro faz um passeio por diversos estilos e tendências, desde o verso livre até a poesia clássica convencional, passando por poemas de nítida influência popular, cordéis, até chegar a poesia concreta e outras formas de vanguarda.

Kleber Araújo é militante do movimento cultural com atuação principalmente nos segmentos de música e poesia. Cinema Novo é o seu terceiro trabalho, onde reuniu compositores, poetas, músicos e declamadores da cidade de Arcoverde (PE), num roteiro poético-musical que retrata as coisas de sua Terra.

Este é o terceiro CD do artista, que em 2007 lançou "Frevo, Amor e Confete", num registro especial pela passagem dos 100 Anos do Frevo. Quatro anos depois, em parceria com o saudoso Maestro Josias Lima, realizou o CD "Dois no Frevo", o qual teve como canção de trabalho "Frevo das Rosas", música classificada em terceiro lugar no Concurso de Música Carnavalesca promovido pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, em 2010.

O evento além de representar uma parceria importante com a SAPECAS - Sociedade dos Poetas, Escritores e Compositores de Sertânia, evidencia o compromisso do COCAR com a valorização dos artistas locais e com a divulgação de seus trabalhos.

SERVIÇO:


Aniversário de 6 anos do Cocar com o lançamento do CD Cinema Novo (Kleber Araújo) e do livro Com Cheiro de Mar e Quixabeira (Josessandro Andrade). Dia 10 de outubro, sábado, a partir das 17h. Cachaçaria Riacho do Mel, Praça da Bandeira, Arcoverde (PE). Evento apropriado para todas as idades e com entrada franca. Informações (81)98854-0661/(87)99122-6596

PORQUE HOJE É 8 DE OUTUBRO - DIA DO NORDESTINO

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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

RAIMUNDIANAS.... 1



SE ESTIVESSE VIVO O GRANDE POETA JOÃO PARAIBANO ESTARIA COMPLETANDO 63 ANOS HOJE


O artista RUBENS DO VALLE,  filho do poeta JOÃO PARAIBANO  lembrou com versos a data deste 07 de outubro, dia de aniversário do seu pai: 
"Mesmo sem tua presença
Vou lhe parabenizar
Nos sessenta e três Janeiros
Que irias completar 
Deixei de abraçar a carne
Mas não deixei de te amar."
"Meu saudoso pai hoje dia 07 de Outubro estaria completando em vida 63 anos. Enquanto lembro do seu aniversário, me envolvo e trabalho cada vez mais por sua obra. Que Deus possa nos guiar sempre", escreveu em sua página da rede social.
O grande poeta nordestino JOÃO PEREIRA DA LUZ (João Paraibano) natural de Princesa Isabel-PB,  morreu na manhã do dia 2 de setembro de 2014. Cognominado o ‘menestrel do Sertão’ faleceu em decorrência de complicações do atropelamento sofrido por uma moto quando atravessava uma rua no centro de Afogados da Ingazeira, no Sertão de Pernambuco, onde morou por vários anos. 
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Versos do poeta João Paraibano, cantados de improviso em um Congresso de Violeiros, formando dupla com Sebastião Dias. 
JÁ NASCI INSPIRADO NO PONTEIO 
DOS BORDÕES DA VIOLA NORDESTINA 
VENDO AS SERRAS BANHADAS DE NEBLINA 
COM UMA LUA IMPRENSADA PELO MEIO 
MÃE FAZENDO ORAÇÃO DE MÃO NO SEIO 
E UMA REDE FERINDO UM ARMADOR 
MINHA BOCA PAGÃ CHEIRANDO A FLOR 
DESLIZANDO NO BICO DO SEU PEITO 
OBRIGADO MEU DEUS POR TER ME FEITO 
NORDESTINO, POETA E CANTADOR 
ME CRIEI COM CUSCUZ E LEITE QUENTE 
JERIMUM DE FAZENDA E MELANCIA 
COM SEIS ANOS DE IDADE EU JÁ SABIA 
QUANTAS RIMAS SE USAVA NUM REPENTE 
FUI NASCIDO NAS MÃOS DA ASSISTENTE 
NA AUSENCIA DOS OLHOS DO DOUTOR 
MAMÃE NUNCA FEZ SEXO SEM AMOR 
PAPAI NUNCA ABRIU MÃO DO SEU DIREITO 
OBRIGADO MEU DEUS POR TER ME FEITO 
NORDESTINO, POETA E CANTADOR 
FIZ FAROFA DE PÃO DE MUCUNà
ME INSPIREI COM O VELHINHO DO ROÇADO 
O SERTÃO É O PALCO ESVERDEADO 
QUE EU ENSAIO AS CANÇÕES DO AMANHà
MINHA ARTISTA DA SECA É ACAUà
NO INVERNO O CARÃO É MEU CANTOR 
UM IMBU ESPREMIDO É MEU LICOR 
UM JUÁ EU NÃO DOU POR UM CONFEITO 
OBRIGADO MEU DEUS POR TER ME FEITO 
NORDESTINO, POETA E CANTADOR 
MINHA VIDA DO CAMPO FOI LIBERTO 
MERENDANDO CAFÉ COM MILHO ASSADO 
VENDO A LUA NAS BRECHAS DO TELHADO 
E O VENTO EMPURRANDO A PORTA ABERTA 
UM JUMENTO ME DANDO A HORA CERTA 
JÁ O GALO ERA MEU DESPERTADOR 
MEU MINGAU FOI PIRÃO DE CORREDOR 
EU CRESCI FORTE E GORDO DESSE JEITO 
OBRIGADO MEU DEUS POR TER ME FEITO 
NORDESTINO, POETA E CANTADOR

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

DESPEDIDA ( temporária )

Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira




Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!


E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar


Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada.


Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira",
Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

A FUMAÇA DO PAJÉ - CONVITE

domingo, 15 de janeiro de 2012

ESTAMOS NO ANO DO CENTENÁRIO DE GONZAGÃO...





Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, na Fazenda Caiçara, povoado do Araripe à 12km de Exu, filho de Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus (Mãe Santana). Foi batizado na matriz de Exu no dia 05 de janeiro de 1913, cuja celebração batismal, foi realizada pelo Pe. José Fernandes de Medeiros. Desde sua infância o pequeno Gonzaga namorava o fole de oito baixos, instrumento este, executado por “Pai Januário” no qual começou seus primeiros acordes.

“Luiz de Januário” como era conhecido na infância, aos 8 anos de idade substitui um sanfoneiro que falhou no trato em festa tradicional no terreiro de Miguelzinho na Fazenda Caiçara, no Araripe, Exu, a pedido de amigos do pai. Naquela noite o pequeno Lula deleitava-se tocando e cantando a noite inteira, e pensava na possibilidade de Dona Santana deixar ele tocar mais vezes. Luiz Gonzaga tocava feliz porque era a primeira noite que tocava com a permissão de “Mãe Santana”. Naquela noite ele recebeu pela primeira vez o cachê de 20$000 rés. Luiz Gonzaga recorda as palavras de Dona Santana que pareciam ter uma esperança de tocar com sua permissão: “Luiz! Isso é gente pra tocar em dança? (…) E se o sono der nele pru lá?” Luiz Gonzaga ia crescendo, com sua simpatia e esperteza conseguiu agradar Sinhô Aires, passando a ser o garoto de confiança do Cel. Sua primeira sanfona era de marca “veado” comprada na loja de Seu Adolfo em Ouricori, Pernambuco, com a fiança do Cel. Manuel Aires de Alencar, o Sinhô Aires, custando 120$000 rés.

(Em 1915 nasce no Iguatu, Ceará, Humberto Cavalcanti Teixeira que mais tarde se tornaria parceiro de Luiz Gonzaga.

Em fevereiro de 1921 nasce em Carnaúba, distrito de Pajeú das Flores, José de Sousa Dantas Filho que posteriormente se torna parceiro de Luiz Gonzaga.

Em 1926 nasce em Gravatá, Pernambuco, Helena das Neves Cavalcanti, futura esposa de Luiz Gonzaga.)

O futuro de Gonzaga estava realmente na sanfona, profissão posteriormente executada em todo Brasil, graças as observações aos dedos ágeis de “Pai Januário”. Antes de Gonzaga completar 16 anos já era conhecido no Araripe e em toda redondeza. Aos 17 anos o filho de Januário apaixona-se por Nazarena, filha de um Alencar. O padrasto da jovem, o senhor Raimundo Deolindo sabendo da inclinação do jovem sanfoneiro pela menina-moça, resolve impedir o namoro. Luiz Gonzaga muito magoado com a situação resolve então encará-lo num sábado na feira do Exu, e disse ‘as do fim!’. Foi por causa de “Nazinha”, como a chamava, que Gonzaga levou uma surra de Dona Santana, por ocasião de seu atrevimento com o senhor Raimundo Deolindo, fugindo de casa em 1930.

Lula resolve então arranjar uma maneira de fugir de casa, foi quando com a ajuda de Zé de Elvira, com quem armou sua fuga, caminhando a pé cerca de 65Km de Exu ao Crato. Chegando no Crato Luiz Gonzaga vende ao lavrador, o senhor Raimundo Lula, sua sanfona por 80:000 rés. Essa decisão na vida de Luiz Gonzaga foi em julho de 1930, quando chega em Fortaleza e alista-se no 23º Batalhão de Caçadores do Exército, servindo no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pará, Ceará, Piauí, Belo Horizonte, Campo Grande e no Rio de Janeiro. O então soldado de n.º 122, ganha fama no Exército e um apelido: “Bico de Aço”, por ser um excelente corneteiro. Deu baixa no Exército em Minas Gerais, no dia 27 de março de 1939 e viajou para o Rio de Janeiro, para esperar o navio que o levaria a Recife, em seguida a Exu. Resolveu então a convite de um amigo, foi ganhar a vida tocando no Mangue, com uma sanfona de 80 baixos, uma Horner branquinha, sua primeira sanfona branca comprada em São Paulo. Vale ressaltar que a partir de então, Luiz Gonzaga só usa sanfona branca até o final de sua vida.

Em 1940 Gonzaga conhece o guitarrista português, Xavier Pinheiros, e forma dupla tocando no Mangue e nas casas noturnas(cabarés), do Rio de Janeiro. Ele começou tocando músicas de Manezinho Araújo, Augusto Calheiros e Antenógenes Silva, começou a apresentar-se nas rádios em programas de Calouros. Em 1941 conhece Januário França, no qual transmite a Gonzaga um convite de Genésio Arruda, para acompanhá-lo numa gravação na RCA Victor. Logo em seguida é convidado para gravar um disco solo; grava dois, e nos cinco anos seguintes, Luiz Gonzaga grava cerca de 30 discos. A partir de 1941, Luiz Gonzaga já tinha o título de MAIOR SANFONEIRO NORDESTINO.

Luiz Gonzaga sofreu muito no Rio de Janeiro, para se firmar artisticamente. Com muita luta e vencendo as ironias de Ari Barroso, em 1942 Luiz Gonzaga começa a fazer sucesso nas emissoras de rádio. Em 1944 ele foi despedido da Rádio Tamoio e, logo em seguida foi contratado por Cr$ 1.600.00 pela Rádio Nacional. Recebe neste ano o apelido de “Lua”, por Paulo Gracindo. Em 1945 Luiz Gonzaga conhece o futuro grande parceiro, o advogado Humberto Cavalcanti Teixeira, nascido em Iguatu, Ceará. No dia 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou seu primeiro disco em voz.

No dia 22 de setembro de 1945 nasceu Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, fruto do amor de Luiz Gonzaga com Odaléia Guedes dos Santos, cantora e bailarina profissional do coro de Ataulfo Alves. Gonzaga conviveu com Odaléia, cerca de 5 anos. Odaléia faleceu de tuberculose em 1952, quando Gonzaguinha tinha 7 anos (vale ressaltar que Gonzaguinha nesta época já morava com os padrinhos Xavier e Dina no Morro de São Carlos).

Em 1946 com Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga compõe e grava a primeira de uma série de 18 parceria: NO MEU PÉ DE SERRA. O sucesso de Gonzaga com esta música começa a ser enorme e ao mesmo tempo seu nome começa a correr pelo mundo: Europa, EUA, Japão, etc. Neste mesmo ano Luiz Gonzaga resolve então rever a família, e chega em casa pela madrugada. Fica frente a frente com Seu Januário e é interrogado: “Quem é o Sinhô? Luiz Gonzaga seu filho! Isso é hora de você chegar em casa corno sem vergonha!?” Deste encontro, Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira, compõem a música RESPEITA JANUÁRIO, em homenagem àquele homem que foi o responsável pela inclinação do “negrinho fiota” para a música. Em 1947 no mês de março, Gonzaga gravou a música ASA BRANCA, que foi inicialmente refutada pelo diretor. A música ASA BRANCA começou a receber diferentes interpretações e gravações em vários países, como Israel e Itália. Em julho de 1947, na Rádio Nacional, Luiz Gonzaga conheceu Helena das Neves Cavalcanti, sua futura esposa.

No dia 16 de junho de 1948 Luiz Gonzaga casa-se com a contadora pernambucana Helena das Neves Cavalcanti, natural de Gravatá – PE, (segundo a cronologia de Assis Ângelo, Luiz Gonzaga já era estéril, mas sobre sua esterilidade fica muito oculto por ocasião de Gonzaga não dá ênfase a esta questão). Luiz Gonzaga resolve então fazer um passeio para apresentar a esposa a “Pai Januário”, que não pôde ir ao Rio de Janeiro para o casamento do filho. Neste dia 05 de abril de 1949, Luiz Gonzaga soube a caminho, que no dia anterior tinha começado em Exu um conflito político entre as famílias Alencar, Sampaio e Saraiva.

Em 1949 Gonzaga conhece em Recife o médico José Dantas de Sousa Filho. Com o novo parceiro, Gonzaga grava no dia 27 de outubro, o baião VEM MORENA e o FORRÓ DE MANÉ VITO. E o Brasil se deliciava com a boa música do “negrinho fiota”, que saiu lá das bandas do Exu para conquistar o coração dos brasileiros. No dia 01 de novembro de 1949, Seu Januário, Dona Santana, Geni, Muniz, Chiquinha, Socorro e Aloísio seguiram para o Rio de Janeiro, no caminhão comprado por Luiz Gonzaga.

Em 1950 o Lua recebe dos paulistas o título de “REI DO BAIÃO” que o consagra até nossos dias. Neste mesmo ano “Lua” grava também a toada ASSUM PRETO e os baiões QUI NEM JILÓ e PARAÍBA, Gonzaga neste período está no auge de sua carreira. A música PARAÍBA foi gravada por uma cantora japonesa Keiko Ikuta, e também pela Emilinha Borba. Em 1951 Luiz Gonzaga coroou a cantora Carmélia Alves como a “RAINHA DO BAIÃO” na Rádio Nacional, no programa “NO MUNDO DO BAIÃO” de Humberto Teixeira e Zé Dantas. No ano de 1952 Luiz Gonzaga tentou projetar para todo o Brasil, nos festejos juninos o talento musical da família através das rádios Tupi e Tamoio tendo como atração, OS SETE GONZAGAS: Seu Januário, Luiz Gonzaga, Severino Januário, José Januário (Zé Gonzaga), Chiquinha Gonzaga, Socorro e Aloísio. Em 1953 grava ABC DO SERTÃO, VOZES DA SECA e a A VIDA DO VIAJANTE. Neste mesmo ano Luiz Gonzaga assume plenamente sua identidade nordestina, começando a usar o gibão de couro. No dia 09 de julho de 1954 mataram em Serrita Raimundo Jacó, primo de Luiz Gonzaga. Em 1959 Dona Marieta, mãe de Dona Helena, veio a falecer no Rio de Janeiro. O Rei do Baião não parava, andava por todo o País cantando e decantando o Nordeste. No amanhecer do dia 11 de junho de 1960, Dona Santana, mãe de Luiz Gonzaga, falecia no Rio de Janeiro, com a doença de chagas. A partir de 1960 Luiz Gonzaga começa a ser esquecido dos meios de comunicação, e faz então um desabafo a Dominguinhos: “EU VOU PARAR DE CANTAR BAIÃO, POIS NINGUÉM MAIS DÁ A MÍNIMA ATENÇÃO PRA MINHA MÚSICA. VOU COMPRAR UM TRANSISCORDE PARA VOCÊ, PRA GENTE FAZER BAILES. EU TOCO CONTRABAIXO, ENQUANTO VOCÊ TOCA ESSE INSTRUMENTO ELETRÔNICO QUE SAIU AGORA”, ( isso foi só um desabafo, pois Gonzaga continuou compondo baião até o final de sua vida). Neste ínterim Luiz Gonzaga estava muito dividido, pois Seu Januário morava sozinho no Araripe, após a morte de Dona Santana. Neste ano o Rei do Baião vinha constantemente ao Araripe para está junto de “Pai Januário”. No dia 05 de novembro de 1960 Seu Januário casa-se com Dona Maria Raimunda de Jesus, cuja celebração foi realizada por Padre Mariano. Aos 72 anos o “Vovô do Baião” demonstrava sua fé e o respeito a Igreja, testemunhando seu segundo matrimônio. Em 1961 Gonzaguinha já estava com 16 anos, passou então a morar com o pai. Em 1961, Luiz Gonzaga entra para a maçonaria. Ele compõe com Lourival Passos a música ALVORADA DA PAZ, em homenagem a Jânio Quadros que renunciou, sete meses após assumir a Presidência da República. No dia 12 de março de 1962, nasce um bebê que é adotado por Seu Januário e Dona Maria Raimunda com 03 dias de nascido. Seu Januário fez questão de registrar o menino como filho legítimo, com o nome de João Batista Januário. João Batista continua morando em Exu, honrando o nome da Família Januário.

Em 1962 a parceria da dupla (Gonzaga e Zé Dantas), se desfaz por ocasião do falecimento de Zé Dantas. Em 1963, o REI DO BAIÃO gravou A MORTE DO VAQUEIRO, uma homenagem a seu primo Raimundo Jacó “morto covardemente”. Neste mesmo ano Luiz Gonzaga foi surpreendido com o roubo que fizeram de sua sanfona e conhece o poeta cearense PATATIVA DO ASSARÉ, de quem grava em 1964 a música A TRISTE PARTIDA. Em 1964 Luiz Gonzaga faz uma homenagem a Sanfona Branca roubada, com a música SANFONA DO POVO. Em 1966 Sinval Sá, lança o livro O SANFONEIRO DO RIACHO DA BRÍGIDA, VIDA E ANDANÇAS DE LUIZ GONZAGA – REI DO BAIÃO, pela edições A FORTALEZA. No ano de 1968, o compositor e versionista Carlos Imperial espalhou no Rio de Janeiro que THE BEATLES acabara de gravar a música ASA BRANCA, mas foi só brincadeira, THE BEATLES não gravaram e o sucesso de Gonzaga começou a voltar na década de 70. Em 1970 Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira entram na Coleção História da MPB, editada pela Abril Cultural. Em 1971 Luiz Gonzaga recebeu o título de “IMORTAL DA MÚSICA BRASILEIRA”, pela TV TUPÍ do Rio de Janeiro. Em 1972 Luiz Gonzaga recebe o título de Cidadão de Caruaru. Foram os papas do tropicalismo Gilberto Gil e Caetano Veloso, que proclamaram solenemente que a moderna canção popular brasileira deitava raízes também na arte antemporal de Luiz Gonzaga. No dia 24 de março de 1972 no Teatro Carioca Tereza Raquel – Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga faz uma apresentação com o título: “LUIZ GONZAGA VOLTA PRA CURTIR”, realizando-se assim, sua volta triunfal. Naquela noite Luiz Gonzaga faz uma síntese falando de toda a sua carreira musical. Naquela oportunidade relatou sua estima pelo o estado do Ceará, dizendo: “É por isso que eu costumo dizer que uma banda minha é pernambucana e a outra banda é cearense!”

No ano de 1973, o Rei do Baião resolve deixar a RCA Victor e passa a gravar na Emi-Odeon. Ainda em 1973 Luiz Gonzaga recebe o título de Cidadão Paulista das mãos do governador de São Paulo. Em 1975, o Rei do Baião conheceu Maria Edelzuíta Rabelo, e correspondia com ela, com o pseudônimo de Marcelo Luiz. Em 1976 Luiz Gonzaga recebe em Fortaleza o título de Cidadão Cearense. Nos dias 13 e 20 de agosto de 1976, a TV GLOBO fez um exibição com o título de “ESPECIAL LUIZ GONZAGA”, tendo a participação de Seu Januário. Em 1977 Luiz Gonzaga entrou na Versão Brasileira da Enciclopédia Universal Britânica. Seu Januário faleceu num dos duplex do PARQUE ASA BRANCA em Exu no dia 11 de junho de 1978. Para sua alegria, no ano de 1980 Luiz Gonzaga canta em Fortaleza para o Papa João Paulo II, que lhe agradeceu ao pegar em sua mão dizendo: “OBRIGADO, CANTADOR!”. Luiz Gonzaga fica envaidecido. Em 1981 o velho Lua recebe os dois únicos discos de ouro de toda sua carreira ( vale ressaltar que é segundo Assis Ângelo e Gildson Oliveira, segundo Dominique Dreyfus Luiz Gonzaga ganhou mais discos de ouro). Neste mesmo ano, Gonzaga fica feliz quando consegue pacificar Exu. Foi ao encontro do Presidente da República em exercício para lhe pedir intervenção e disse: “Dr. Aureliano, faça um esforço para levar a paz à minha terra!”. Tempos depois feliz com a paz conseguida para sua terra, em entrevista Luiz Gonzaga diz ao jornalista Assis Ângelo: “NINGUÉM DAVA JEITO EM EXU. EU PEGUEI AURELIANO CHAVES NUMA BOA E 15 DIAS DEPOIS ELE MANDOU INTERVIR (NA CIDADE). A INTERVENÇÃO SE ENCAIXOU QUE NEM UMA LUVA, E NUNCA MAIS HOUVE CRIME POLÍTICO LÁ”.

Em 1982 Luiz Gonzaga vai tocar em Paris a convite de Nazaré Pereira. Permaneceu em Paris dez dias, conhecendo vários pontos importantes. Em 1984 Luiz Gonzaga recebeu o PRÉMIO SHELL. Em 1985 Luiz Gonzaga é agraciado com o troféu NIPPER DE OURO, uma homenagem internacional da RCA a um artista dela. Em 1986 Gonzagão vai pela segunda vez à França, participando no dia 06 de julho de um espetáculo que reúne cerca de 15 mil pessoas no Halle de la Villete. Luiz Gonzaga foi ladeado por Alceu Valença, Fafá de Belém, Morais Moreira e Armandinho, entre outros artistas brasileiros que integraram o “Couleurs Brésil”. Foi neste passeio que a jornalista francesa, DOMINIQUE DREYFUS, fala com Gonzagão na possibilidade de com ele, fazer um livro autobiográfico. Ainda em 1986 José de Jesus Ferreira lança o livro LUIZ GONZAGA O REI DO BAIÃO: SUA VIDA, SEUS AMIGOS, E SUAS CANÇÕES.

Em junho de 1987, a escritora e jornalista DOMINIQUE DREYFUS chega ao Brasil, passando 02 meses no PARQUE ASA BRANCA em Exu. O Rei do Baião desde pequeno trazia em seus lábios um sorriso sincero e, sempre quando podia, gostava de brincar com os outros, oportunidade que aproveitava para saber como estava o sertão. Luiz Gonzaga conheceu e tocou em todos os municípios brasileiros com mais 400 habitantes, inclusive, tocou em Sobral – CE quatro vezes. Tocou pela última vez nesta cidade, terra de Dom José Tupinambá da Frota, no dia 28 de novembro de 1987. Quando Gonzagão chegava nessas cidades do interior para fazer seus shows, era anunciado por seu motorista com o seguinte anúncio: “Atenção, atenção! Vem visitar vocês Sua Majestade o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a maior expressão popular brasileira. Hoje aqui em praça pública!” A carroceria de seu caminhão servia de palco em seus shows, por este Brasil afora.

Em 1988 Mundicarmo Maria Rocha Ferreti lança o livro BAIÃO DE DOIS: ZÉ DANTAS E LUIZ GONZAGA, fruto de uma tese de mestrado. Em 1988 Luiz Gonzaga rompe novamente o contrato com a RCA. Em junho do corrente ano, Luiz Gonzaga entra com o pedido de desquite na justiça pernambucana, por já não se entender com Dona Helena. Ainda em 1988 Luiz Gonzaga passa a morar com Maria Edelzuíta Rabelo. A senhora Edelzuíta Rabelo nos fala através do livro Luiz Gonzaga: O Matuto que conquistou o mundo, o seguinte: “Amei Lula sem nada pedir ou esperar, mas sabendo que me bastava estar diante do homem mais extraordinário que já conheci, que me fez renascer e me ensinou grandes lições.”

A última entrevista de Luiz Gonzaga concedida a imprensa, foi para o jornalista Gildson Oliveira através de Ivan Ferraz no dia 02 de junho de 1989. Recife foi o local escolhido por Luiz Gonzaga para passar seus últimos momentos de vida. O último show realizado por Luiz Gonzaga foi no dia 06 de junho de 1989 no Teatro Guararapes do Centro de Convenções de Recife, onde recebeu homenagens de vários artistas do país. Antes de finalizar o show, o Rei do Baião proferiu estas palavras: “ Boa Noite minha gente! (…) Minha gente, não preciso dizer que estou enfermo. Venho receber essa Homenagem. Estou feliz, graças a Deus, por ter conseguido chegar aqui. E estou até melhor um pouquinho. Quem sabe, né?

“Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor. Este sanfoneiro viveu feliz por ver o seu nome reconhecido por outros poetas, como Gonzaguinha, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Alceu Valença. Quero ser lembrado como o sanfoneiro que cantou muito o seu povo, que foi honesto, que criou filhos, que amou a vida, deixando um exemplo de trabalho, de paz e amor.

Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor.

Gostaria que lembrassem que sou filho de Januário e dona Santana. Gostaria que lembrassem muito de mm; que esse sanfoneiro amou muito seu povo, o Sertão. Decantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes. Decantou os valentes, os covardes e também o amor. (…) Muito obrigado.”

Na quarta feira, 21 de junho de 1989, às 10:00h, o velho Lua foi levado às pressas ao Hospital Santa Joana, permanecendo 42 dias internado, onde veio a falecer. Palavras de Luiz Gonzaga na UTI do hospital: “VOCÊS NÃO ME LEVEM A MAL. SINTO MUITAS DORES E GOSTO DE ABOIAR QUANDO DEVERIA GEMER.” Luiz Gonzaga travava naquele hospital uma luta imensa contra a morte, e o Brasil todo ficava cada vez mais preocupado com o estado de saúde de seu maior defensor. Luiz Gonzaga não resistiu, o Brasil e o mundo ficou enlutado com o seu último suspiro. O Asa Branca da Paz voava para a eternidade deixando um grande exemplo de vida a ser seguido.

O Rei do Baião faleceu no dia 02 de agosto de 1989, às 5:15min da manhã no Hospital Santa Joana, em Recife. Foi na Veneza Brasileira que Luiz Gonzaga dava seu último suspiro. Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa de Recife nos dias 02 e 03 até às 9:45min da manhã, foi velado também em Juazeiro do Norte. CE, na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro às 17h, local onde repousa os restos mortais de Pe. Cícero Romão Batista, apesar de o corpo do Rei ter chegado no aeroporto de Juazeiro Norte às 15:20min do dia 03 de agosto. Palavras de Gonzaguinha ainda no aeroporto de Juazeiro: “TUDO BEM, VAMOS ENTRAR NA CIDADE. SE O POVO QUER, QUE PODEMOS FAZER?”

O corpo do Rei do Baião chegou a sua terra natal, sua querida Exu no dia 03 a noite. Foi velado na Igreja Matriz de Exu, durante a noite do dia 03 e todo o dia 04, saindo para o sepultamento no Cemitério São Raimundo às 15:45min. Das centenas de coroas de flores que estavam espalhadas na igreja Bom Jesus dos Aflitos em Exu, oferecidas por fãs de Luiz Gonzaga, estava esta que o repórter Gildson Oliveira transcreveu a seguinte mensagem: “Amado Lula: o silêncio acende a alma… O País canta sua voz… Os pássaros se entristecem com a partida da Asa Branca, mas fica em nossos corações a sua história. E a nossa festa é esta. Quem crê em Cristo, mesmo que esteja morto viverá.”

O corpo de Luiz Gonzaga foi levado no carro corpo de bombeiros, passando por diversas ruas da cidade rumo ao Cemitério São Raimundo, local onde aconteceram as últimas manifestações de carinho, àquele que só foi alegria. O caixão desceu a sepultura depois que Gonzaguinha, Dominguinhos, Alcimar Monteiro e mais de 20 mil pessoas cantarem a música ASA BRANCA às 16:50min. Luiz Gonzaga foi embalado no seio da terra na sexta feira, no mesmo dia da semana, que ele nasceu. Uma outra coincidência é que ele morreu no amanhecer do dia, assim como ele nasceu no amanhecer do dia 13 de dezembro de 1912.

Em 1990 foi lançado pela Editora Martin Claret o livro LUIZ GONZAGA, VOZES DO BRASIL. O filho Gonzaguinha depois de ter passado 15 dias em Exu falando aos amigos sobre a preservação do Parque Asa Branca, veio a falecer subitamente por ocasião de um acidente automobilístico na manhã do dia 29 de abril de 1991, morrendo no mesmo dia. Em 1991 o jornalista Gildson Oliveira lançou o livro LUIZ GONZAGA, O MATUTO QUE CONQUISTOU O MUNDO. Sua esposa, Dona Helena Gonzaga, conhecida por “MADAME BAIÃO”, faleceu na manhã do dia 04 de fevereiro de 1993 na Casa Grande do Parque Asa Branca.

Em 1994 o cordelista Pedro Bandeira lança uma 2ª edição ampliada do livro LUIZ GONZAGA, NA LITERATURA DE CORDEL. Em 1997 a Francesa Dominique Dreyfus lança o livro VIDA DO VIAJANTE: A SAGA DE LUIZ GONZAGA. Ainda em 1997 o professor Uéliton Mendes da Silva lança o livro LUIZ GONZAGA, DISCOGRAFIA DO REI DO BAIÃO. No ano 2000 a professora Sulamita Vieira, lança o livro SERTÃO EM MOVIMENTO – a dinâmica da produção cultural, fruto de sua tese de doutorado. Ainda no corrente ano a professora Elba Braga Ramalho lançou o livro LUIZ GONZAGA: A Síntese Poética e Musical do Sertão. Fruto de sua tese de doutorado na University of Liverpool, na Inglaterra. Em dezembro 2001 eu, este pequeno devoto do Rei do Baião, escrevi um opúsculo em homenagem ao Rei do Baião, intitulado: “Luiz Gonzaga, o Asa Branca da Paz”. Graças a Deus consegui a apresentar a Chiquinha Gonzaga, irmão do Rei do Baião, e recebi dela a aprovação do trabalho.





ESCRITO POR: Pe Fábio Mota  (Colecionador e pesquisador de Luiz Gonzaga)
E-mail: fabiomota1977@hotmail.com


Publicada no livro: 
MOTA, José Fábio da."Luiz Gonzaga, o Asa Branca da Paz”
Sobral – CE, 2001.

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