Vivera todos seus anos planejando e trabalhando para a viagem. Ouvindo estórias dos que se foram antes dele, olhando os retratos, assistindo televisão, renegando as misérias, os atrasos e as limitações da sua terra, do seu povo, desse lugar sem-jeito.
Aprendeu a assinar o nome na turma da alfabetização solidária para jovens e adultos, providenciou os documentos, vendeu as duas cabras e dois cabritos, comprou a passagem e uma roupa nova, um chapeu, par de botas, carteira marrom, mala com cadeadozinho inseguro.
A mãe chorou desconsolada como se nunca mais fosse revê-lo, o pai olhava com um risco de esperança nos olhos, quando o transporte partiu.
Há seis dias que João chegou no paraíso. Deslumbrado ainda, nomeando as criaturas inúmeras. Quase nu.
Na quinta noite deitou com uma mulher e derramou-se. No sexto dia contou o dinheiro que restava e antes de procurar trabalho com os parentes prontos pra ajudá-lo quis experimentar do fruto cobiçado desde criança.
Gastou quase tudo que lhe restava na carteira marrom pra comprar o desejo. Tudo ali era tão caro, espantou-se. O preço da felicidade....
Trancou-se no quarto e comeu até não poder mais. Empanzinado, morreu. Descansou.